A Santa Casa só entra no capital do Montepio “se tiver o risco bem medido”. A garantia foi dada por Pedro Santana Lopes, dizendo que não vai “pôr a Santa Casa em risco”, revelou ontem numa entrevista à SIC. “A Santa Casa não entra no Montepio se o risco for incomportável”, frisou. E também não avança sozinha, contando para isso com a participação da União das Misericórdias, daí Santana ter estado reunido esta terça-feira com Manuel Lemos.
No mês passado, o provedor da Santa Casa tinha apontado o final do mês de junho como prazo máximo para tomar uma decisão, mas agora admite que os trabalhos ainda estão numa fase inicial e o timing poderá derrapar. “Contratámos consultores, juristas, para fazer esse levantamento, só depois é que vamos estudar o dossiê para podermos tomar uma decisão. Ainda nem estive reunido com Tomás Correia.” E deixou um recado: “Não decido sob stresse e, se vir que há um risco muito elevado, digo que não”, acrescentando: “A Santa Casa tem resultados consideráveis e não vou dar cabo disso.”
Ao mesmo tempo, deixou uma garantia: “Nem eu nem ninguém da administração da Santa Casa quer ser banqueiro ou bancário”, referindo também que a sua aposta é na área social, recordando os 200 milhões de euros que foram investidos recentemente na área da saúde.
Santana Lopes vê com naturalidade a “pressão” que tem sido feita para a Santa Casa entrar no capital da instituição financeira, uma vez que a ideia é ter um banco de capital português, além da Caixa Geral de Depósitos, bem como as vantagens de essa instituição ter uma ligação ao setor social e ser sensível às necessidades das pequenas e médias empresas. “Sei que há outros bancos interessados em comprar o Montepio, mas aí corremos o risco de ser adquirido por um maior e deixar de ter capital português, tal como tem acontecido no setor. Enquanto português, essa ideia não me agrada”, confessou.
Desenho da operação Santana Lopes não quis adiantar pormenores da operação, alegando que ainda está numa fase inicial, mas reconhece que será possível adquirir até 10% do capital. Ao que tudo indica, esta entrada da Santa Casa no capital do Montepio deverá ser feita através da compra de unidades de participação que estão na posse da associação mutualista que controla o Montepio. Aliás, nos últimos dias de maio, estas unidades dispararam em bolsa, acumulando subidas de 77% em apenas dois dias, sem que nada oficial justificasse este movimento.
Mas ainda em preparação está a transformação da associação mutualista em sociedade anónima. Esta alteração foi aprovada em abril passado e, segundo os novos estatutos do banco como sociedade anónima, a alteração implica que a associação mutualista deixe de ter 100% do capital social do banco, uma vez que os atuais detentores de títulos do Fundo de Participação da Caixa Económica Montepio Geral passam a ser acionistas do banco. Esta mudança, por si só, faz com que a mutualista deixe de ter a totalidade da caixa económica liderada por José Félix Morgado e fique dona de 94,7% do capital. Os restantes 5,3% passam a ser ações nas mãos dos titulares de unidades de participação. Recorde-se que este processo de transformação começou em março de 2016, por exigência do Banco de Portugal.