Bloco de Esquerda, meu amor (Joana Mortágua apoia Trump)

1.Joana Mortágua – sempre com o seu estilo aguerrido e perspicaz – escreveu uma prosa no jornal “i” (o jornal diário português que mais marca a actualidade, mesmo que haja quem não o queira admitir) com o título tão fofinho de “Venezuela, meu amor”. É sempre comovente ver um bloquista reiterar o seu amor a…

1.Joana Mortágua – sempre com o seu estilo aguerrido e perspicaz – escreveu uma prosa no jornal “i” (o jornal diário português que mais marca a actualidade, mesmo que haja quem não o queira admitir) com o título tão fofinho de “Venezuela, meu amor”. É sempre comovente ver um bloquista reiterar o seu amor a um dos seus paraísos na Terra.

No entanto, este não era o texto que Joana Mortágua pretendia escrever: a Autora preferiria elogiar as conquistas da democracia popular, mostrar que a “pomba branca” de Hugo Chávez continua a sobrevoar os céus da Venezuela – e que Maduro é o melhor seguro que o povo venezuelano pode ter contra as tentações imperialistas do capitalismo norte-americano.

Ah, e claro que não podemos esquecer o remate final que Joana Mortágua guardou no seu coração durante anos e anos: a Venezuela mostra que as camadas populares podem conquistar o poder, afastar os “porcos capitalistas”, construir uma verdadeira democracia social assente em edução e saúde gratuita para todos. A Venezuela seria, pois, um farol que ilumina o povo português na sua luta contra as políticas de direita, mostrando que é possível uma alternativa ao sistema capitalista. 

2.Infelizmente para Joana Mortágua e seus camaradas – embora felizmente para os restantes portugueses  – , o destino foi muito ingrato para uma das “manas” pop stars da política portuguesa: a máscara caiu ao regime venezuelano, mostrando o seu lado sanguinário e assassino (que sempre lá esteve latente e subtilmente escondido), derivando o “chavismo sem Chavez” para uma ditadura ainda mais radical de esquerda.

Por outro lado, aqui em Portugal, o seu Bloco de Esquerda deixou cair a sua máscara de partido dos trabalhadores, revolucionário e transformador da sociedade portuguesa – e revelou-se um partido igual aos outros, ou seja, um instrumento de conquista e captura do poder que troca convicções por conveniências. Afinal, as manifestações folclóricas do Bloco de Esquerda apenas visavam conquistar uma pequena grande coisa: poder dentro da estrutura administrativa do Estado.

Enfim, o Bloco rendeu-se aos “pequenos vícios burgueses” e aos tão famigerados (e famosos!) “ tachos”. Não é certo que o Bloco consiga, de facto, aumentar o rendimento disponível dos trabalhadores portugueses – porém, já é  certo que conseguiu aumentar algo: os “tachos” para os seus “boys”. Isto ao mesmo tempo que vai promovendo a candidatura presidencial do anti-burguês mais burguês que conhecemos – Francisco Louçã, pois claro.

3.O mais incrível é que Joana Mortágua (por quem temos muita estima pessoal) revela-se capaz de escrever, aparentemente sem soltar uma gargalhada, que o Bloco de Esquerda sempre repudiou o regime venezuelano. A sério, Joana? De certeza, que não se enganou no partido em que se filiou? Atenção, Mariana Mortágua: há que esclarecer, rapidamente e em força, o que é o Bloco de Esquerda (e a sua história) à sua mana.

Onde estava Joana Mortágua quando Francisco Louçã escrevia longos textos apologéticos de Hugo Chávez, enaltecendo o seu papel na luta contra o imperialismo? Onde estava Joana Mortágua quando o Bloco de Esquerda convidou para as suas iniciativas políticas, sobretudo destinados à sua juventude, vários apoiantes de Chávez para nelas intervir? Será que Joana tem faltado aos acampamentos do Bloco?

Aliás, minha caríssima Joana Mortágua, basta efectuar uma brevíssima pesquisa no seu site de eleição – essa preciosidade informativa chamada “ esquerda.net” – para encontrar diversos textos de defesa do regime chavista, sempre numa lógica anti-americana e anti-democracia liberal.

4.Enfim, caríssima Joana, bem sei que custa perceber que a história do seu partido é feita de posições lamentáveis e pouco dignificantes. É a vida – ainda está a tempo de mudar de posicionamento político, o que revelava um grande espírito democrático (não o aprendeu certamente com os seus companheiros do BE) e uma, ainda maior, sabedoria.

Agrada-nos igualmente que  Joana Mortágua tenha manifestado o seu alinhamento com a posição do Presidente Donald Trump: a Embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, exigiu que a organização falasse mais dos verdadeiros problemas que afectam o mundo e menos de efabulações: que falasse, destarte, mais da violação aos direitos humanos mais elementares na Venezuela e menos no seu alvo predilecto (porque politicamente correcto), que é Israel.

5.Como vê, Joana, nós somos tolerantes e temos espírito aberto: quanto a último ponto do seu texto, estamos plenamente alinhados com a sua posição. Há que defender verdadeiramente a democracia e os direitos humanos na Venezuela, aplaudindo as posições quer de Nikki Haley, quer de Joana Mortágua. Que o mesmo é dizer, do Presidente Donald Trump e do Bloco de Esquerda.

P.S – O debate político não se confunde com questiúnculas pessoais, nem é limitado por sentimentos pessoais fundados em pertenças grupais. Mesmo no Bloco de Esquerda, cujas posições políticas são insustentáveis e apenas folclore, há gente honesta, inteligente e com grande mérito. E que merecem, por conseguinte, a nossa admiração – é o caso de João Semedo. Lamentamos que não possa disputar a Câmara Municipal do Porto no próximo acto eleitoral – teria certamente dado um contributo importante para a discussão sobre o futuro da cidade. Estamos certos, no entanto, que ganhará a luta essencial contra ao problema de saúde que o aflige: fica, pois, aqui o abraço de muita força que endereçamos a João Semedo.

joaolemosesteves@gmail.com