Metade das licenciaturas e mestrados integrados das universidades e politécnicos públicos têm uma taxa de desemprego acima da média nacional, fixada em 7,2%, com base no IEFP.
Em causa estão 517 cursos – os alunos que terminaram essas licenciaturas entre os anos letivos de 2012-2013 e 2014-2015, a 31 de dezembro de 2016, ainda não tinham encontrado emprego e estavam, à data, registados no IEFP.
O número representa 47% do total de 1086 licenciaturas e mestrados integrados a funcionar em Portugal, nas instituições públicas – um retrato que espelha uma queda tímida na taxa de desemprego entre os diplomados, face a 2015. Nesse ano, a taxa de desemprego nacional, com base no IEFP, era de 8,3%, e havia 539 cursos cujo nível de desemprego ultrapassava este patamar. Eram 53% do total de 1010 licenciaturas em funcionamento na altura.
Este é apenas um dos resultados do levantamento realizado pelo i, com base em dados divulgados pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) às instituições de ensino superior e que serão tidos em conta para a distribuição de vagas que ficarão disponíveis no próximo concurso nacional de acesso, que arranca dentro de mês e meio (19 de julho).
Ainda de acordo com os dados, a que o i teve acesso, é entre os politécnicos que há mais cursos que ultrapassam a taxa de desemprego nacional. Entre os 15 politécnicos há 281 cursos cujo nível de desemprego fica acima dos 7,2%. Os restantes 236 estão a funcionar em universidades.
Serão estes 517 cursos que, à partida, estão em risco de ver congelado o número de vagas disponíveis no concurso nacional de acesso ao superior. Ou seja, de acordo com o despacho orientador das vagas enviado pelo governo às instituições – a que o i teve acesso –, caso estes cursos também registem uma taxa de desemprego superior à taxa total da sua instituição e, cumulativamente, à taxa de desemprego da sua área de ensino, para o próximo ano letivo estão impedidos de aumentar o número de vagas face aos lugares que estiveram disponíveis este ano.
33 cursos com total empregabilidade
No reverso, as tabelas da DGES revelam que há 33 cursos, com pelo menos 20 diplomados, que não têm qualquer aluno inscrito no IEFP. Ou seja, o governo entende que têm uma taxa de empregabilidade total.
Sem surpresa, os cursos da saúde, como Medicina e Enfermagem, são aqueles que registam uma taxa de desemprego mais baixa. Pelo contrário, são os das áreas das artes, humanidades e de serviço social que estão entre os que têm uma taxa de desemprego mais alta (ver infografia).
Entre as instituições de ensino superior, são as universidades e politécnicos do interior do país que continuam a dominar os níveis de desemprego mais alto entre os seus alunos. E olhando para a tabela do desemprego geral das instituições, entre as dez com a taxa de desemprego mais alta, nove são politécnicos. A única universidade que marca lugar nesta tabela é a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, que ocupa a primeira posição, com 12,7% de desemprego entre os seus alunos.
Apesar de reconhecer que a questão do desemprego “é importante”, o presidente do Conselho de Reitores (CRUP), António Cunha, recomenda que os estudantes “escolham o curso que querem” e que a escolha deve resultar da análise de “vários aspetos”, entre eles a vocação e a proximidade da profissão de familiares. “A questão do emprego é importante, mas não é determinante”, sublinha António Cunha, ressalvando que as estatísticas espelham o cenário de hoje e que, “dentro de três ou cinco anos, a realidade vai ser absolutamente diferente”.
Tecnologias e física médica são o futuro
Além das regras desenhadas pelo ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, para a distribuição das vagas entre os cursos, o despacho orientador para as instituições traz ainda duas apostas de futuro em áreas específicas: os cursos das tecnologias de informação, comunicação e eletrónica e os cursos de física médica.
São duas áreas onde, diz ao i o presidente do CRUP, haverá “uma enorme procura nos próximos dez ou 20 anos”. O também reitor da Universidade do Minho lembra que estas são áreas onde “há um absoluto défice de quadros”. António Cunha lembra que “estamos numa era de transformação digital” e que, nestas áreas, “o desemprego é praticamente nulo”, havendo “uma procura muito maior do que a oferta”.
A falta de quadros e especialistas em física médica como proteção radiológica também foi identificada pela Direção-Geral da Saúde, ao ponto de provocar “óbvias limitações atuais e futuras no funcionamento do SNS”, lê-se no despacho orientador de vagas.
Por tudo isto, Manuel Heitor recomenda às instituições que apostem nestas duas áreas.
regras do despacho
São várias as regras do despacho que se mantêm face aos anos anteriores. O número total de vagas não vai aumentar e os cursos que tenham tido menos de dez alunos inscritos no 1.o ano e pela primeira vez, consecutivamente nos três últimos anos letivos, terão de encerrar no próximo ano. A exceção continuam a ser os cursos de artes e os que são únicos no país.
As instituições devem ter em conta os níveis de empregabilidade e continuam impedidas de abrir cursos que já existam na sua região.