Nem o mundo nem a política são os mesmos.
Se Nuno Krus Abecasis, célebre presidente da Câmara de Lisboa na década de 80, considerou, em entrevista bem-humorada à A Capital, que «a política ou é a sério e feita por homens de barba rija ou é uma grande mariquice», em 2017, o CDS-PP tem uma campanha «a sério» mas com menos barbas rijas.
Este ano, os centristas têm uma candidatura encabeçada pela sua presidente, Assunção Cristas, que, ao contrário de Krus Abecasis, não teve o apoio do PSD, mas que tem vindo a ganhar força como alternativa a Fernando Medina. Cristas, nesse sentido, tem feito campanha com a mesma confiança de Krus Abecasis.
«Só pode mandar quem sabe. E eu sabia mais de tudo na Câmara que qualquer outro», dizia o autarca, na já citada entrevista.
A líder do CDS também tem procurado saber para mandar, com ciclos de conferências e visitas a diversos pontos da cidade.
No sucesso eleitoral e nos 11 anos de maioria absoluta que Abecasis teve como presidente de Câmara é que as semelhanças com o CDS de hoje são menos evidentes. «Lisboa é uma das cidades mais bonitas da Europa e é preciso restituir a sua beleza natural», defendia também Krus Abecasis. Aí, o discurso permanece bastante atual.
Fora da gaveta
«Comigo não vão haver projetos na gaveta, vão saltar todos da gaveta para fora!», prometera – e cumprira – Abecasis no despontar do seu primeiro mandato, em 1978.
Assunção, quarenta anos depois do CDS tomar os Paços do Concelho e 30 após Nuno Krus Abecasis os deixar, poderia ter dito a mesma frase.
Talvez por isso, em jeito de tributo ao legado do único presidente de câmara que o CDS já elegeu na capital, tenha endereçado o convite à sua filha, a jornalista Raquel Abecasis.
A agora ex-diretora adjunta da Rádio Renascença será candidata independente pelo CDS à Junta de Freguesia das Avenidas Novas e, já o admitiu, não descarta assinar a ficha e tornar-se militante dos democratas-cristãos, como o pai antes de si.
«Foi onde vivi a minha juventude toda e é uma freguesia que conheço muito bem», justificou Raquel, à rádio que agora abandona. «A política sempre teve uma atração sobre mim. Acontece que tinha uma profissão incompatível. Por isso, quando tomasse essa decisão, tinha de deixar de exercê-la», disse também à emissora católica nacional.
Jornalista há mais de três décadas, Raquel Abecasis dedica-se, então, ao seu «segundo amor».
«Devo muito ao jornalismo, fiz muita coisa boa no jornalismo, gostei muito, mas acho que está na altura de fazer outra coisa, de mudar de vida. E essa outra coisa, para mim, é a política», assumiu, em jeito de conclusão.
Quem não esconde o entusiasmo em ter Raquel na sua lista a Lisboa é Assunção Cristas. A candidata à câmara e presidente do PP afirma ao SOL «perceber que há pessoas com carreiras profissionais de sucesso e que sentem vontade de vir servir os outros na política».
Para Cristas «é ainda mais recompensante» para si, «pessoalmente», e para o CDS «sentir que encontram no nosso projeto o lugar certo para o fazerem».
«A política precisa dos melhores e é bonito ver quando isto acontece. A Raquel Abeassis é disso um dos melhores exemplos», vaticina a ex-ministra.
Ao SOL, João Gonçalves Pereira, porta-voz da candidatura centrista e vereador do CDS em Lisboa, salienta: «Queremos uma grande coligação com a sociedade civil. O CDS terá nas suas listas [Câmara, Assembleia Municipal e Juntas de Freguesia] mais de duzentos independentes». Para o dirigente distrital, «há pessoas de grande qualidade em Lisboa, desde as associações de moradores, de coletividades desportivas e culturais, do urbanismo, de instituições do setor social e muitas outras que têm sido convidadas e que têm aceite integrar as nossas listas».
A aposta centrista nos independentes
Tem sido uma constante e Raquel Abecasis não é exceção na candidatura de Assunção Cristas. Há mais independentes, logo a começar no mandatário, o ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Carmona Rodrigues, que tem também coordenado as conferências do CDS sobre a cidade.
Na junta de freguesia do Parque das Nações, por exemplo, Carlos Ardisson é candidato independente pelo CDS, tendo carreira feita na área da gestão e participação ativa na sociedade civil local (é vice-presidente do maior clube desportivo da freguesia).
Para a junta de Campo de Ourique, os centristas recrutaram Paula Guimarães como candidata independente, que preside à Fundação Montepio e ao Grupo de reflexão e apoio à cidadania empresarial, pertencendo também ao comité de responsabilidade social do European Savings Banks e ao conselho de administração do instituto de proteção social europeu.
Com uma carreira longa e reconhecida na área da ação social, Paula Guimarães é outro dos rostos independentes em que o CDS aposta para este ano. E a ida às urnas para as autárquicas está para breve: é já a 1 de outubro. Gonçalves Pereira assegura ao SOL que, até lá, «ainda haverá muitas agradáveis surpresas».
Não há independentes a mais?
O SOL falou também com o presidente do CDS/Lisboa, Diogo Moura, que garante que não há «independentes a mais» na candidatura a Lisboa.
«Provavelmente serão mais mediáticos, mas temos inúmeros candidatos dos quadros do partido com qualidade, determinação e provas dadas», certifica o líder concelhio, que é também novamente candidato à Assembleia Municipal.
«Para as autárquicas é estratégia da concelhia, desde o início do mandato, procurar conciliar os quadros do partido com a abertura à sociedade civil, visão essa partilhada pela presidente», Assunção Cristas.
Os convites, diz Moura, «têm partido quer dela quer da nossa parte, com o objetivo comum de apresentar os melhores candidatos às freguesias».
Raquel Abecasis, é público, tratou-se de um convite pessoal feito por Cristas, mas que tem entusiasmado as estruturais locais pelo impacto mediático e pela herança que consigo traz.