O Santander vai ter de reduzir a sua estrutura, tanto em postos de trabalho como em balcões depois de ter comprado esta semana o Banco Popular por um euro, no âmbito de uma medida de resolução para evitar a falência desta instituição bancária.
A ideia, segundo a imprensa espanhola, é eliminar três mil postos de trabalho e os cortes serão nas posições e serviços que o banco tiver em duplicado, assim como na eliminação de balcões.
A instituição financeira liderada por Ana Botín vai avançar com uma oferta de rescisões voluntárias e reformas antecipadas. E este programa de corte de custos poderá também ter implicações em Portugal, uma vez que é o segundo mercado do Popular e onde o Santander também tem uma forte presença.
E os números falam por si: em Portugal, o Popular tem perto de 900 funcionários e a este número junta-se aos 6167 que o Santander Totta tinha no fecho de 2016. Já em Espanha o Popular emprega 12 mil funcionários. Também em termos de balcões, os números são significativos: 118 em Portugal em 1600 em Espanha.
Com a aquisição do Popular, o Santander é obrigado a aumentar o seu capital no valor de sete mil milhões de euros para cobrir o capital e as provisões necessárias para fortalecer o Popular.
A filial portuguesa não foi objeto de resolução e está incluída no perímetro de venda, pelo que passa também a integrar o grupo do Banco Santander, revelou o órgão regulador.
Feitas as contas, com esta operação, a instituição financeira torna-se o maior banco em Espanha – com 17 milhões de clientes – e o maior banco privado em Portugal, com quatro milhões de clientes, representando 17% do mercado português.
Ana Botín, presidente executiva do Santander, garantiu que o objetivo é manter todos os clientes e explica que o negócio vem numa boa altura. A responsável explicou ainda que a marca será única: Santander. O Banco Central Europeu (BCE) adotou este mecanismo de decisão de resolução, dando ordem para a transferência de todas as ações e capital do Popular para o Santander pelo custo de um euro «devido à recente situação de stress de liquidez». Segundo o BCE, a instituição financeira estava «em queda ou prestes a cair».
Estas dificuldades já tinham sido admitidas pelo próprio CEO do Popular, Emilio Saracho, que escreveu aos seus colaboradores a reconhecer a «situação difícil» da instituição financeira. O responsável começou por dizer que «as informações que têm sido publicadas afetam o trabalho e o ânimo» de todos os colaboradores do banco, mas «a nossa obrigação como profissionais passa por nos centrarmos no dia-a-dia e nos clientes». Saracho adiantou também, na altura, que estava a trabalhar em diferentes alternativas «para cumprir os requisitos regulatórios impostos pelo BCE para o próximo ano», que passassem pela venda de ativos estratégicos e uma operação de venda a outra entidade financeira. E foi este último cenário que acabou por se concretizar.
Também a presidente do Conselho Único de Resolução, Elke König, revelou que «a decisão tomada salvaguarda os depositantes e as funções críticas do Banco Popular. Isto mostra que os instrumentos dados às autoridades de supervisão depois da crise são eficazes para evitar o uso do dinheiro dos contribuintes no resgate a bancos».
Também a Comissão Europeia aprovou a medida, no âmbito das regras de concorrência, e disse que «foi o melhor caminho para assegurar a continuidade das funções importantes desenvolvidas pelo banco e para evitar efeitos adversos significativos sobre a estabilidade financeira».
Já Ana Botín destacou ainda que esta é uma boa notícia tanto para Espanha como para a Europa. «Há uma resolução sem que haja ajuda de Estado. Não há nenhum custo para os contribuintes. É uma operação estritamente privada. É uma grande notícia para a Europa. O sistema espanhol será mais sólido com esta operação», salientou.
Operação em Portugal
O negócio do Banco Popular no mercado nacional encontrava-se em processo de transferência para deixar de ser um banco de direito nacional e passar a ser uma sucursal do Popular. Agora, passa a fazer parte do grupo espanhol Santander.
O Banco de Portugal acrescentou ainda que «esta solução não contempla financiamento por parte de organismos nacionais e protege as poupanças confiadas ao Banco Popular Portugal, assegura a continuidade dos serviços prestados em Portugal e o financiamento à economia». Daí defender que esta solução preserva a estabilidade do Banco Popular Portugal e contribui para a salvaguarda da estabilidade do sistema financeiro português.
Esta não foi a única aquisição do banco espanhol no mercado português. Também em dezembro de 2015, o Santander comprou o Banif por 150 milhões de euros. A solução garantiu «a total proteção das poupanças das famílias e das empresas confiadas no Banif», foi referido, na altura.
Despedimentos no setor
A verdade é que o anúncio de mais despedimentos no setor não parece surpreender os sindicatos. Aliás, esta tem sido a fórmula encontrada pelos bancos nos últimos anos para responder à redução dos custos operacionais que tem sido imposta e que ganha maior relevo quando se assiste à compra de um banco por outro que está instalado no mesmo mercado.
O Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) admitiu que a compra do Banco Popular pelo Santander é «menos má» do que uma eventual resolução ou liquidação do primeiro, mas antecipou uma «maior pressão» para a redução dos postos de trabalho.
«A curto prazo, os trabalhadores vão ser integrados num grupo com maior capacidade, o que é importante, mas a médio e longo prazo estes processos tendem a traduzir-se em menor oferta concorrencial e na redução de postos de trabalho. Temos que estar atentos para que isto se faça com o mínimo de perdas para o trabalho e para a sociedade portuguesa como um todo», afirmou.
Uma opinião partilhada por Rui Riso, presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas que recentemente já tinha alertado para mais cortes no grupo Santander. Isto porque, de acordo com o responsável, antigos colaboradores do Banif que passaram para a Oitante podem ficar sem emprego quando o banco espanhol terminar a migração dos sistemas informáticos da antiga instituição portuguesa.