O dia 12 de junho é sinónimo de feriado nacional para os russos e é celebrado, ano após ano, com paradas militares, concertos, festivais e eventos para as famílias. Na origem desde dia de exaltação patriótica está a declaração de independência da Rússia, em 1990, face à União Soviética, 1990, que, depois de diversas nomenclaturas e estatutos, foi formalmente nomeado de Dia da Rússia.
Mas em 169 localidades do país, as celebrações deste ano foram acompanhadas por manifestações de protesto contra o presidente Vladimir Putin, que juntaram milhares de pessoas e resultaram em centenas de detenções. De acordo com os correspondentes da BBC na Federação Russa, mais de 400 pessoas foram detidas em Moscovo e outras 300 em São Peterburgo, muitas delas “escolhidas ao acaso” entre a multidão de manifestantes, alegadamente por terem gritado frases como “Por uma Rússia sem Putin!” ou “Abaixo o Czar!”.
Segundo as autoridades moscovitas, as detenções deveram-se ao mesmo motivo que levou a polícia a prender, à porta de casa, o principal rosto da oposição política a Putin e organizador máximo dos protestos de hoje na capital russa, Alexei Navalny: manifestação ilegal.
O homem que quer desafiar o presidente nas eleições de 2018 e que pretendia que as manifestações neste Dia da Rússia suplantassem o protestos anti-corrupção de março – calcula-se que tenham saído à rua, há três meses, mais de 60 mil pessoas, sendo que mil foram detidas pela polícia – anunciara, no seu site, a alteração do local da manifestação da avenida Sakharova para a rua Tverskaya, uma decisão que as autoridades entenderam como “uma provocação” e decidiram que infringia a lei.
“Quaisquer tentativas de realização de eventos não-autorizados na rua Tverskaya, em Moscovo, será uma violação direta da lei”, escrevia a procuradoria-geral moscovita, num comunicado, citado pela RT. “As forças policiais vão tomar todas as medidas necessárias para prevenir provocações, motins ou quaisquer atos que violem a segurança pública”, acrescentava.
Para além das detenções em Moscovo – onde a polícia calcula que se tenham juntado 5 mil protestantes – e São Petersburgo, há registo de ações semelhantes em cidades como Vladivostok, Blagoveshchensk ou Kazan. Muitas das manifestações foram transmitidas em direto pelo canal de YouTube de Navalny, cuja detenção foi anunciada pela mulher, no Twitter.
Mesmo que o partido do ativista e representante da oposição liberal não tenha conseguido eleger qualquer representante nas últimas eleições, o estatuto de Navalny de principal contestador a Putin é cada vez mais unânime dentro e fora de portas, nomeadamente entre as gerações russas mais novas. Acusado pela justiça de desvio de dinheiro, o próprio acusa o Kremlin de o querer afastar da corrida presidencial do próximo ano.