O abandono pelos EUA do Acordo de Paris sobre o clima foi alvo de críticas morais, pois o desinteresse pelo ambiente lega um mundo pior às próximas gerações. Também se ouviram críticas ao desprezo do Presidente dos EUA pelas conclusões científicas sobre o aquecimento global e as alterações climáticas. Conclusões se não unânimes, pelo menos largamente consensuais.
2016 foi o ano mais quente no mundo desde que há registos. Nos dois círculos polares o gelo desfaz-se a olhos vistos. Mas há quem não queira ver a realidade.
Também houve críticas de natureza económica. Parece que Trump ficou surpreendido pelo facto de grandes empresas, incluindo algumas petrolíferas, terem protestado contra o abandono do Acordo de Paris.
É que as empresas de alguma dimensão, nos EUA e noutros países desenvolvidos, já perceberam que o futuro está nas energias limpas. Estas empresas fazem grandes investimentos, que levam anos a gerar lucros, e por isso têm que os planear a longo prazo, para apostarem em sectores dinâmicos. Muitas viram-se desde já para as energias renováveis, antecipando uma tendência irreversível. É o caso da EDP, agora muito falada por outros motivos menos simpáticos.
O custo de produzir energia limpa está a cair progressivamente, dispensando subsídios públicos para centrais solares e eólicas funcionarem sem prejuízo. A energia solar, por exemplo, é considerada competitiva, em termos de preço, frente aos combustíveis fósseis – carvão, petróleo, gás natural. A China tornou-se no primeiro investidor mundial em energia solar e a Índia segue-lhe os passos. Também a energia eólica progride rapidamente. Entretanto, os perigos do nuclear – o desastre de Fukushima, não haver ainda solução para os detritos, etc. – levaram já a Alemanha e a Suíça a desistirem desta fonte energética.
E temos a questão das baterias. Quando estas se tornarem mais eficientes e mais baratas – estão em curso muitas investigações com esse objectivo – os derivados do petróleo serão substituídos pela electricidade nos transportes rodoviários. Ainda não se chegou lá, mas é razoável prever que dentro de alguns anos essa substituição aconteça em larga escala.
Trump falou na criação de empregos na extracção de carvão. Ora nos EUA o carvão sofre a concorrência do mais barato e menos poluente gás natural – daí a presente crise do sector. «Carvão limpo», disse Trump. Mas o carvão não poluente é, de facto, uma possibilidade técnica, só que ainda não concretizada em termos competitivos: é mais cara do que as renováveis.
Não esqueço que a transição para as energias limpas na produção de electricidade tem problemas ainda não totalmente ultrapassados. A energia solar e a eólica não são permanentes: por vezes não faz sol e não há vento. E quando não chove as barragens hidroeléctricas deixam de produzir ao fim de algum tempo. O que implica ter na retaguarda centrais termoeléctricas a funcionar para que não haja interrupções no fornecimento de electricidade (este é um dos motivos para as tão faladas ‘rendas’ das eléctricas).
Por outro lado, se muitos consumidores instalarem nas suas casas painéis solares a rede eléctrica terá menos aderentes e pode tornar-se pouco apetecível para os investidores. Mas estes obstáculos não são intransponíveis e não põem em causa a crescente predominância das energias limpas.