Pedrógão. Trovoada na origem do fogo não aparece nos mapas tornados públicos

IPMA garante que há registos e explica que o site costuma ter erros 

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera confirmou ontem a existência de trovoada no início do incêndio de Pedrógão Grande, a tese que foi apresentada pelo diretor da Polícia Judiciária Almeida Rodrigues durante o fim de semana, ao adiantar que já fora mesmo identificada uma árvore junto à localidade de Escalos Fundeiros. Os mapas públicos relativos a descargas elétricas não mostram, porém, a existência de raios na tarde de sábado no local onde tudo terá começado.

As dúvidas sobre a tese foram levantadas nas redes sociais por Pedro Almeida Vieira, autor do livro “Portugal: O Vermelho e o Negro”, uma investigação sobre incêndios em Portugal publicada em 2006.

O autor, com formação de base em Engenharia Biofísica, analisou os mapas que estavam disponíveis no domingo no site do IPMA sobre descargas elétricas e não verificou raios a norte de Pedrógão, o que contraria a tese das autoridades.

O site do IPMA só fornece informações sobre descargas elétricas referentes ao próprio dia ou ao dia anterior, mas quando, na tarde de domingo, Pedro Almeida Vieira tentou consultar de novo a informação de sábado com mais detalhe, os dados que só deviam ter saído do site na segunda-feira já não estavam disponíveis.

Em declarações ao i, Pedro Almeida Vieira sublinha que, numa situação desta natureza, a causa do incêndio não explicará nunca a dimensão da tragédia. Ainda assim, o autor, que foi também jornalista, diz que a tese rápida das autoridades que não é validada pelos mapas tornados públicos deve ser questionada. Para Almeida Vieira, seria essencial perceber também quem sinalizou o fogo, se havia vigilantes florestais no local e quantos operacionais combateram o fogo nos primeiros momentos, tudo questões que o i já colocou à Autoridade Nacional de Proteção Civil, que informou estar empenhada no combate aos fogos e sem meios para responder em detalhe às questões da imprensa.

O que diz o IPMA

Além de printscreens dos mapas que chegaram a estar disponíveis no site do IPMA no domingo de manhã, Pedro Almeida Vieira revelou ter feito uma pesquisa numa plataforma que analisa descargas eléctricas a nível mundial – LightningMaps.org – e também não havia registo de raios a norte de Pedrógão Grande, onde fica Escalos Fundeiros, na tarde de sábado. “Pessoalmente, desconfio que a insistência oficial na trovoada seca como origem do incêndio apenas aparece para se encaixar numa tese favorável à imprevisibilidade e incapacidade humana em debelar algo supra-humano”, escreveu nas redes sociais.

O i colocou na segunda-feira questões ao IPMA acerca das dúvidas suscitadas, como por que motivo o mapa foi retirado do site e como sustentam a indicação de que houve trovoada seca no local, o que também tem sido negado por alguns populares. Até ao momento não foram fornecidas respostas.

Em conferência de imprensa, o presidente do IPMA, citado pelo “Público”, garantiu existirem registos na zona de Escalos Fundeiros, mas disse não poder explicar por que motivo não foram disponibilizados nos mapas tornados públicos. O IPMA adiantou também que há falhas frequentes nos mapas que são apresentados na internet, uma vez que o site não interpreta devidamente o algoritmo usado na monitorização de descargas elétricas, problema que se terá verificado no sábado.

Na investigação que está no terreno para apurar as causas de incêndio a questão central é perceber se a origem foi ou não natural. Em declarações à Lusa, o procurador-geral distrital de Coimbra, Euclides Dâmaso, afirmou ontem não ter razões para desconfiar da teoria da PJ, mas salientou que a mesma tem de ficar comprovada no inquérito.

Os mapas das descargas elétricas deverão ser uma das peças a analisar. 

Alguns moradores das zonas afectadas têm relatado não ter ouvido trovoada na tarde de sábado. " As autoridades estão a dizer que foi da trovoada seca, mas às duas da tarde já havia fogo e não se ouvia trovoada nenhuma", disse ao i um morador no domingo.

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