Tive apenas ocasião de contactar uma vez com ele, quando Beleza ocupava as funções de governador do Banco de Portugal. Nessa altura, o escudo e a peseta estavam sob ataque especulativo, com os mercados a apostarem que se iriam desvalorizar. E Miguel Beleza deu uma entrevista ao “Expresso”, onde garantiu que o escudo não se iria desvalorizar. Mas teve azar. A Espanha, cansada de gastar milhões em moedas fortes para sustentar o valor da peseta, decidiu desvalorizá-la. E Portugal, agora isolado, não teve outra hipótese senão seguir o mesmo caminho e desvalorizar também o escudo (mesmo assim, menos que a peseta). E eu, como jornalista do entretanto extinto jornal televisivo RTP – Financial Times, fui destacado a ir à conferência de imprensa no Banco de Portugal em que Beleza explicaria a decisão. Para minha surpresa, constatei que, numa conferência de imprensa, a maioria dos jornalistas não faz perguntas, limita-se a captar o que é dito. Como me explicou depois um jornalista mais experiente: “não são jornalistas, são paus de microfone”.
Mas eu perguntei a Miguel Beleza como é que, tendo ele afirmado no sábado ao “Expresso” que o valor do escudo se iria manter, como é que estava a desvalorizá-lo, terça ou quarta-feira. Ele apenas me respondeu que as circunstâncias tinham mudado, referindo-se à desvalorização da peseta. Não ficou minimamente irado, mas estava claramente triste por admitir que tinha perdido aquela batalha.
No geral, fiquei com a impressão de se tratar de um homem bom. Os meus pêsames à família, e que descanse em paz.