A rede de comunicações de segurança e de emergência (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, SIRESP) deixou de funcionar entre as 19h de sábado e as 9h30 de domingo, no pico do incêndio.
Ou seja, durante 14h30 as autoridades de combate às chamas – bombeiros, GNR e Proteção Civil – não conseguiram comunicar entre si no teatro das operações, sabe o i.
Nessa altura, já o fogo lavrava o concelho de Pedrógão Grande há cerca de cinco horas e o sistema SIRESP deixou de funcionar totalmente depois de as antenas emissoras na região terem ardido.
Este bloqueio nas comunicações pode ser uma das explicações para que a estrada nacional 236 – onde morreram 47 pessoas – não tenha sido encerrada à circulação pela GNR.
O SIRESP só foi restabelecido depois de ter chegado ao local um carro de apoio, com antenas para emitir sinal de comunicação, que partiu de Lisboa. Este carro de apoio foi pedido pelas autoridades às 23 horas de sábado e chegou ao local às 8h30 da manhã.
As autoridades pediram ainda um outro carro de apoio, que estava em Fátima, mas que não chegou ao local porque “está avariado desde a visita do Papa a Portugal”, disse ao i a mesma fonte. Durante todo este período, não havia solução no local para que as autoridades no terreno comunicassem entre si.
Recorde-se que o presidente da Liga de Bombeiros, Jaime Marta Soares, já tinha dito, em entrevista ao i, que o SIRESP “faliu durante algumas horas na tarde de sábado”. Uma falha que “obviamente teve implicações” na operação e que “consta na fita de tempo” (relatório do incêndio), que está nas mãos da Autoridade Nacional da Proteção Civil.
Marta Soares explicou ainda que durante o período em que o SIRESP não funcionou, os bombeiros só conseguiram comunicar entre si através de “rádios internos”.
Versões contraditórias Por outro lado, a Autoridade Nacional de Proteção Civil admite apenas falhas no SIRESP num curto período. O comandante operacional, Vítor Vaz Pinto, garantiu – várias vezes durante as conferências de imprensa que decorreram nos últimos dias – que as falências na rede eram “muito curtas, inferiores a um minuto, meio minuto”. E que, por isso, “nunca comprometeram as operações e não têm tido muito significado”. Vítor Vaz Pinto justificou as falhas por “saturação do sistema” já que está em causa “uma área muito grande, de uma utilização massiva dessa rede do SIRESP, por muita gente, e naturalmente que por vezes temos alguns constrangimentos”.
Ausência de resposta A Proteção Civil foi uma das três autoridades (juntamente com a GNR e o IPMA) questionadas diretamente pelo primeiro-ministro na terça-feira, que exigiu explicações “com urgência”, através de um despacho, sobre as causas do incêndio e os procedimentos seguidos no combate às chamas. Três dias depois, a Proteção Civil, presidida por Joaquim Leitão, foi a única autoridade da qual António Costa ainda não recebeu resposta. E o primeiro-ministro salientou a ausência de resposta, ontem, em Conselho de Ministros: “Ainda aguardo a resposta da Proteção Civil”.
Ninguém quer assumir culpas. Em entrevista à RTP, a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, garantiu que “não houve uma falha total mas sim interrupções e intermitências, mas foram colocadas, às 20horas, redes móveis satélites para assegurar as redes SIRESP”. A governante disse ainda que “nenhum operacional” lhe “relatou que tivesse tido esse corte na rede SIRESP”.
Ontem, confrontado pelo i com a falha de 14h30, o Ministério da Administração Interna disse apenas que “está a ser feito um levantamento de todas as circunstâncias do que aconteceu com a rede SIRESP, se falhou ou não, quando falhou, como falhou e os meios móveis que compensaram as eventuais falhas do SIRESP”, e que está “a ser recolhida a fita do tempo”. Só quando a tutela reunir toda a informação “será dada uma explicação”.
Outras falhas Esta não é a primeira vez que a rede SIRESP falha durante incêndios. Já no ano passado, por exemplo, nos incêndios que lavraram a zona do Sardoal, a rede de comunicações não funcionou durante 12 horas, de acordo com documento do Ministério da Administração Interna (MAI) datado de 18 de abril de 2017, revelado pelo “Expresso”. O jornal conta que “entre o momento em que uma das estações base deixou de funcionar e começou a ser usada a estação móvel passaram 12 horas”.
A rede SIRESP é gerida por uma parceria público-privada em que participa o MAI, a Meo e a Motorola, entre outras entidades. Foi lançada em 2005 e custou mais de 485 milhões de euros.