Alunos do 9.º ano da escola Bissaya Barreto
Durante esta semana, o ambiente foi pesado em todo o agrupamento de escolas de Castanheira de Pera, em particular para uma turma do 9.º ano da escola Bissaya Barreto: uma das alunas perdeu a mãe e o pai nos incêndios.A turma tinha reunido 300€ para organizar a viagem de finalistas, mas acabou por doar todo o dinheiro recolhido para ajudar os bombeiros da terra.«Os alunos decidiram não fazer a viagem, mas também não quiseram ficar com o dinheiro», contou ao SOL o diretor do agrupamento de escolas de Castanheira de Pera, António Alves.A decisão foi tomada espontaneamente pelos 16 alunos da turma «e por unanimidade», disse o diretor. Só depois de tomada a decisão é que foi comunicada ao diretor de turma.«Ficámos todos positivamente surpreendidos», afirmou. «A semana tem sido muito pesada para eles».Os 300€ serão entregues na terça-feira.
Sérgio Gonçalves, criador de um fundo para donativos
«Em vez de ficar sentado a fazer posts no Facebook, pensei em utilizar as redes sociais para chegar a mais gente para conseguir juntar o máximo de dinheiro possível». Foi assim que o publicitário Sérgio Gonçalves explicou o motivo pelo qual tinha posto mãos à obra. «Situações extremas implicam medidas extraordinárias». Criou o fundo na plataforma de crowdfunding durante aquele domingo dramático e em menos de 24 horas já tinha cinco mil euros. Agora, já tem mais de 20 mil euros. «Precisamos de todo o apoio possível para aliviar o sofrimento das populações», lê-se no comunicado da causa. «20 mil euros não vai safar ninguém para o resto da vida, mas vai permitir que pelo menos uma pessoa faça um pé-de-meia para o seu futuro», disse Sérgio Gonçalves.Relativamente às burocracias, Sérgio assegura que as despesas serão cobertas pelos criadores do fundo, que vão a Pedrógão durante a próxima semana entregar o dinheiro.
Filipe Afonso, fuzileiro da Marinha Portuguesa
A equipa do SOL que esteve em Pedrógão Grande encontrou junto ao quartel dos bombeiros a cozinha de campanha, onde 20 fuzileiros da marinha se organizavam para servir refeições quentes às autoridades destacadas no local, bombeiros, GNR, Proteção Civil e voluntários.Na cozinha estava Filipe Afonso, o cabo que tinha acabado de servir 1100 refeições: «Ninguém sai daqui com fome», garantia.Na cozinha, Filipe era o líder. Cozia batatas e ovos, escorria o feijão, abria latas de atum e organizava a equipa. «Fazemos sempre a chamada comida de tacho, ou seja, tudo na mesma panela».Filipe Afonso, que já tinha servido sete meses em Timor-Leste, comentava a tragédia de Pedrógão: «Isto está mau, muito mau mesmo».
Rui Rocha, presidente da Câmara de Ansião
Avelar, em Ansião, recebeu e organizou o centro de operações das autoridades que serviu de base às autoridades que estavam em ação nos fogos da região. Mas não se ficou por aqui. Ansião protagonizou uma onda de solidariedade para com os familiares das vítimas. Rui Rocha, presidente da Câmara de Ansião, disse ao SOL que logo nas primeiras horas os serviços municipais da terra alojaram 50 ou 60 pessoas que fugiam do fogo, acabando por vir a acolher «várias centenas».«Toda a organização da operação de ajuda só foi possível porque estamos num território de pouca população, onde toda a gente se conhece», frisou.«Na primeira noite nem dormi, andei por todo o lado a dar resposta aos vários pedidos de auxílio», confessou Rui Rocha, autarca que já tinha anunciado há tempos que não se recandidata ao cargo nas próximas eleições autárquicas.
Veterinários
O incêndio não provocou apenas perdas humanas. Os veterinários foram imediatamente para o terreno ajudar no tratamento aos animais que ficaram feridos no fogo. A Ordem dos Veterinários disponibilizou-se para minimizar as consequências dos incêndios.Também as clínicas particulares se mobilizaram. Inês Oliveira, da clínica veterinária de Figueiró dos Vinhos VetFigueiró, explicou que, mal se soube da tragédia, a clínica fez-se à estrada. «Queríamos prestar assistência aos animais no terreno», disse.Ao chegar ao local, «a destruição era total», descreveu, acrescentanto que «a prioridade foi acolher os animais que estavam feridos e precisavam de ficar internados».«Ajudámos principalmente cães e gatos, mas também muitos animais de pecuária», contou a veterinária. Os principais problemas tinham a ver com «inalação de fumo» e «queimaduras».«Foi uma grande sobrecarga de trabalho e também emocional», concluiu Inês Oliveira.
Isabel, habitante de Candosa
«Foi ela que salvou os idosos da aldeia», dizia o marido de Isabel à equipa do SOL que esteve no local na passada quarta-feira.Ao ver o incêndio a aproximar-se, Isabel pegou no carro e, em duas viagens, conseguiu retirar oito idosos da aldeia de Candosa, levando-os para a sua casa e salvando-os das chamas.«Ela deu uma volta enorme, era impossível passar por muitos dos caminhos, estávamos completamente rodeados de chamas», comentava o marido. Uma das idosas salvas por Isabel confirmava o ato: «Quem nos valeu foi a Isabel, que nos levou para casa dela, que ainda é longe».A aldeia de Candosa, em Góis, já tem os seus 11 habitantes de volta às suas casas. O fogo não chegou a destruir as casas, mas tudo em redor da aldeia ardeu.