A nova lei de quotas de género, aprovada a passada sexta-feira na Assembleia da República, está a gerar burburinho no CDS-PP. Depois de Assunção Cristas ter ficado a aplaudir sozinha, na sua própria bancada, a viabilização da lei, alguns centristas mostraram o seu descontentamento nas redes sociais. Ao semanário Expresso, Cristas diz-se "muito feliz por ver o CDS viabilizar a lei das quotas", mas há quem não esteja. A começar no porta-voz do partido, João Almeida.
"Foi hoje aprovada mais uma lei de quotas. Desta vez, nos conselhos de administração de empresas cotadas. Votei contra. Acho que este tipo de políticas menoriza e estigmatiza as mulheres. Isso não é, nem nunca será, igualdade. Para além do surrealismo de o estado interferir na constituição dos orgãos societários de empresas privadas, o que também não faz qualquer sentido", escreveu o também antigo presidente da Juventude Popular, João Almeida, assumindo o seu evidente discordar de Assunção Cristas.
E é precisamente da juventude partidária do CDS que surgiu outra 'farpa' à aprovação da lei das quotas. Francisco Rodrigues dos Santos, que é hoje o líder dos jovens centristas, publicou uma fotografia da abertura do ano judicial em 2013, com Joana Marques Vidal (Procuradora Geral da República), Paula Teixeira da Cruz (Ministra da Justiça), Assunção Esteves (Presidente da Assembleia da República) e Elina Fraga (Bastonária da Ordem dos Advogados). Só mulheres, portanto, e para Rodrigues dos Santos isso quer dizer que "quando as quotas são fixadas pelo mérito" e não "pela coercividade da lei", isso sim representa "uma sociedade moderna e aberta ao progresso".
Rodrigues, próximo da matriz democrata-cristã do partido, tem defendido posições mais conservadoras que a presidente do CDS desde que Cristas ganhou o último congresso dos centristas. Mas o facto é que também da ala mais liberal do CDS chegaram críticas à tomada de posição da atual presidente.
Michael Seufert, que foi eleito deputado ao mesmo tempo que Assunção Cristas, escreveu ter "pena que o CDS tenha emprestado votos para a aprovação da lei de quotas no sector privado", na medida em que as quotas de género estabelecidas também afetam as empresas quotadas em bolsa. "Desde logo porque o Estado não tem de ordenar aos indivíduos, às famílias ou às organizações como se governam naquilo que é seu e não colide com direitos de outros indivíduos, famílias ou organizações. O auto-governo, por definição, é desses casos", prosseguiu Seufert.
Embora lançando um longo elogio "à autonomia individual dos deputados", de que também fez uso, o antigo parlamentar e líder da JP adverte que "é o pensamento socialista que enuncia raciocínios como 'é um mau meio (legislar isto) mas é para um bom fim'", e não quem queira ser "a alternativa ao socialismo em Portugal".
O presidente do CDS/Lisboa, Diogo Moura, também admitiu preferir "o mérito à obrigatoriedade e imposição por quotas".
A nova lei das quotas de género obriga as empresas públicas a incluirem mulheres em pelo menos 33,3% do conselho de administração, sendo que as empresas quotadas em bolsa começam com uma exigência de 20% e só ascendem para o valor comum em 2018.