Afirmou que no dia do incêndio de Pedrogão Grande o Estado falhou – o que, mesmo não sendo culpa das autoridades, é parcialmente verdade – mas disse também que o Estado continua a falhar, por não pôr ao serviço das vítimas desta tragédia psicólogos em quantidade suficiente, o que se estará a traduzir em suicídios.
António Costa aconselha prudência nas declarações, o que me parece um conselho sensato. Neste caso concreto, e em primeiro lugar, nada garante que a presença de mais psicólogos reduzisse o número de suicídios relacionados com o desastre. O único remédio verdadeiramente eficaz seria enviar para o terreno, além de psicólogos, psiquiatras, que pela medicação que têm a possibilidade de prescrever conseguissem, quando isso fosse necessário, “anestesiar” os sobreviventes, evitando assim que estes tomassem atitudes drásticas como acabar com a própria vida.
Em segundo lugar, Passos Coelho mostrou que não hesita em colocar-se em cima dos corpos dos cadáveres para tentar ganhar votos. Até pode ser que seja relativamente eficaz, que consiga convencer algumas pessoas. Mas é o grau zero da política. Não há algo pior que usar uma tragédia para ganhar votos. Passos, que já previu a vinda do Diabo, parece agora disposto a trocar a alma por uns corpos. O desejo do poder cega-o. Espero que falhe.