A rede de comunicação entre as autoridades, SIRESP, esteve em baixo durante mais de 14 horas, no pico do incêndio que matou 64 pessoas em Pedrógão Grande. Sabe-se agora que essa falha deixou sem resposta pelo menos dez pedidos de socorro.
A ‘fita do tempo’, uma espécie de caixa negra, das ações registadas no Sistema de Apoio à Decisão Operacional, a que o Público e o Jornal de Notícias tiveram acesso, revelam a incapacidade do centro de comando em distribuir informações importantes aos operacionais no terreno.
A primeira falha do sistema ocorreu às 19h45 do dia 17, quando os bombeiros de Pedrógão Grande informam que ficaram sem sinal de baixa frequência, à mesma hora o 112 dá conta do pedido de ajuda de três vítimas isoladas numa habitação cercada pelo fogo. Há uma tentativa de contacto para dois postos, mas nenhuma das duas tem sucesso.
Cinco minutos mais tarde, às 19h55, um homem e o seu pai, na localidade de troviscais, pedem ajuda, mas o contacto com o Posto de Comando continua sem se conseguir fazer.
Pouco mais de uma hora depois, às 20h55, é feito um pedido de reposicionamento de antenas SIRESP.
Às 21h28, chega a informação de uma habitação a arder e existência de uma pessoa queimada, em Vila Facaia. Foram feitas duas tentativas de contacto, primeiro para o Posto de comando e de seguida para os bombeiros, ambas sem sucesso.
Minutos mais tarde, às 21h37, outra habitação a arder em Vila Facaia e o Posto de Comando é avisado
Pelas 21h47, um homem de 75 anos pede ajuda, avisa que tem problemas respiratórios e que está numa quinta, em Sarzedas de Vasco, sozinho e sem água. Novamente o contacto com o Posto de comando não foi possível.
Uma hora depois, às 22h45, um homem pede ajuda para a sua mulher, que estaria num carro, a casa de ambos já tinha ardido. Contacto continua sem ser bem-sucedido.
Às 23h15 há uma falha geral nas comunicações, que abrange os telefones pessoais.
No início da madrugada, à 1h02 de dias 18, o CDOS de Leiria insiste na necessidade urgente da resolução das "quebras constantes da rede SIRESP" e pede apoio para o "levantamento das vítimas mortais" da EN236 que impediam a passagem dos meios de combate [morreram 47 pessoas naquela estrada, quando tentavam fugir do incêndio].
Durante o resto da madrugada foi havendo melhorias na comunicação, com alguns contactos estabelecidos com sucesso, mas também houve veículos inoperacionais, falta de combustível e demora nas unidades móveis do SIRESP, necessária para reforço das comunicações.
Às 11h10 de dia 18, há novo pedido de ajuda, devido a uma habitação em chamas, em Pinheiro da Piedade, com uma idosa no interior. Comunicações através do SIRESP voltam a falhar. Informado adjunto de Pedrogão que envia socorro. Três vítimas assistidas e casa evacuada.
Pelas 15h05, há nova falha nas comunicações, não se consegue fazer o contacto com os comandantes do setor, após várias tentativas, através do SIRESP e de telemóveis. Situação que se manteve durante mais de uma hora.
Por volta das 17h, reconhece-se necessidade de recolocar o Posto de Comando, pois não existem comunicações.
Às 21h40, não é sequer possível o contacto, via telefone, com os autarcas, tendo sido enviada uma sms para um briefing sobre a situação.
Perto da 1h, às 00h49 do dia 19, o Posto de Comando de Pedrógão Grande é recolocado.
Quase três horas mais tarde, às 3h31, é solicitado o piquete da Portugal Telecom devido a danos nas telecomunicações.