1.Foi uma grande cacha jornalística do “i” e da magnífica jornalista que é Ana Sá Lopes: António Costa, no rescaldo dos incêndios de Pedrógão Grande, organizou um” focus group” para apurar o impacto da tragédia nos seus índices de popularidade. E a resposta deste “focus group” foi positiva: parece que a população está com António Costa!
O que explica os sorrisos de Costa nos últimos dias, apesar da tragédia humana a que assistimos – e o espectáculo deplorável que o Governo, enquanto órgão superior da Administração Pública, tem promovido…
2.O que é, para os mais distantes destes fenómenos do marketing político, um “focus group”? No fundo, é uma pequena amostra de eleitores – preferencialmente representativos dos vários estratos da sociedade portuguesa, para ser mais fiável – à qual se questiona determinada opinião para daí se inferir o estado de alma do povo português. São levadas a cabo por empresas de comunicação ou de sondagens (embora não sejam tecnicamente sondagens, nem inquéritos de opinião): no caso, parece que foi uma empresa ligada ao PS e, pessoalmente, a António Costa.
Normalmente, neste tipo de trabalhos, sobretudo tratando-se de empresas conotadas politicamente com o partido do Governo, os resultados são sempre muito favoráveis a quem paga o serviço – logo, o facto de António Costa ter ficado agradado com os indicadores do “focus group” não nos pode surpreender.
Porventura, os socialistas portugueses – que estiveram presentes na campanha de Hillary Clinton para aprender segredos de montagem de campanha eleitoral – aprenderam mesmo com os “focus group” de Clinton: todos davam uma vitória esmagadora à candidata democrata, ao ponto de a estrutura de Hillary Clinton ter dispensado a sua presença em vários estados da “rusty belt”. O resultado eleitoral é por todos bem conhecido – e já faz parte da história…
3. Dito isto, pergunta-se: qual então a relevância desse “focus group”? Absolutamente nenhuma: bem pode António Costa convencer-se que o povo português está com ele e que o Governo continua na maior, podendo atirar responsabilidades para terceiros : a realidade não muda (ainda!) de acordo com os humores e as habilidades de Costa. Na verdade, este “focus group” revela que politicamente António Costa já entrou na sua fase descendente.
4.Quando é que percebemos que um Primeiro-Ministro sente que o seu mundo está a desabar? Sente que a realidade está a fugir ao seu controlo? Precisamente, no momento em que um político – designadamente um Chefe de executivo ou de Estado – necessita de recorrer a este tipo de manobras para se sentir bem. Para se sentir motivado e, ao mesmo tempo, conseguir mobilizar as suas tropas: são estes “focus groups” que permitem aos políticos criar uma “bolha”, uma “realidade alternativa”, um “mundo virtual” que lhes cria uma falsa (e desligada do mundo real) sensação de conforto.
5.António Costa, atendendo ao seu perfil e personalidade, precisa de popularidade, precisa de se sentir o ícone do país, pelo menos, da maioria dos portugueses. Quando começa a observar uma queda da sua popularidade, a mínima sensação de perder o poder, António Costa fica desorientado, ríspido, zangado com o mundo, a vida e os …portugueses. Não consegue decidir. Não consegue planear. Não consegue liderar.
E lá tiveram os contribuintes portugueses de pagar este “focus group” para serenar a alma de António Costa. Quanto terá o Governo pago por esta fantochada? António Costa é, de facto, um Primeiro-Ministro caro. Ou, como costumamos afirmar, o António Custa!
6.Contudo, o mais grave nesta história é percebermos que, não obstante a dimensão da tragédia, não obstante a natureza dos problemas – a preocupação de António Costa e do seu Governo é só uma – a popularidade, as sondagens e as eleições. Já sabíamos que António Costa só pensa no seu projecto de poder pessoal; encara a política como um fim em si mesmo, como um jogo do “nós” (Costa e o seu grupo de amigos) contra os “outros” (todos aqueles que se recusam em pactuar com o seu projecto pessoal de poder).
Todavia, desta vez, António Costa ultrapassou todos os limites: enquanto o país chorava a perda de 64 vidas, o Primeiro-Ministro já encomendava pequenos estudos de opinião sobre o…impacto dos fogos na sua imagem!
Em vez de se preocupar com o apuramento cabal das responsabilidades, com a resposta mais rápida possível à tragédia, com a definição de um esquema que permita socorrer às vítimas rapidamente e justamente, em vez de pensar de imediato uma forma de como se evitar que tragédias similares ocorram – a reacção instintiva de António Costa foi a de criar um “focus group” para estudar se a sua imagem sai afectada pelos fogos! Isto é inacreditável – e um insulto para todos os portugueses!
7.Ficámos a saber que, perante uma tragédia que redundou na morte de 64 portugueses, o nosso Primeiro-Ministro entende que o essencial é a sua imagem e a sua popularidade. Parece (e nós não queremos acreditar que assim seja!) que entre a sua imagem ou resolver os problemas de Portugal, António Costa nunca hesitará – escolherá sempre a sua imagem e o reforço da sua popularidade.
Ora, como confiar num líder político que governa para as sondagens? Quem nos garante que as medidas tomadas por Costa não são sempre pura gestão política da sua imagem – e não pensando no interesse superior de Portugal e de todos os portugueses? Doravante, é impossível acreditar em António Costa. O dano reputacional está feito – e nem vale a pena encomendar “focus group” , pagando com dinheiro dos contribuintes, para dizer o contrário!
8.Num país normal, esta atitude de António Costa geraria controvérsia e indignação: no nosso, as televisões e a maioria dos jornais (com a honrosa excepção da independência do “i”) sonegaram esta notícia.
Morrem 64 pessoas? Continua o deplorável espectáculo de “passa culpas” quanto aos incêndios? Não se preocupem: este é o maravilhoso mundo costista…Mais um retrato do nosso Portugal geringonçado.