Além dos dois carros móveis que foram chamados para reforçar a rede SIRESP na noite trágica em Pedrógão, o Estado tem mais duas antenas que poderiam ter sido usadas para aumentar a cobertura da Rede Nacional de Emergência e Segurança. Foram compradas pela anterior ministra da Administração Interna, Anabela Rodrigues, em 2015, mas não chegou a ser feita a ligação ao satélite necessária para o funcionamento.
Na noite da tragédia, quando foi pedido o reforço da rede, os serviços da Secretaria Geral do MAI confrontaram-se com a falta de meios. Um dos carros móveis que transporta este equipamento estava em Espanha para ser arranjado depois de uma avaria aquando da operação da visita do Papa a 12 e 13 de maio. Tratava-se do carro que está à guarda da GNR. Já a viatura confiada à PSP estava numa oficina em Chelas, para ir à revisão na segunda-feira seguinte. Só depois da intervenção do Secretário de Estado da Administração Interna é que se conseguiu contactar a oficina, que libertou o carro depois da meia noite.
Afinal, sabe-se agora, haveria mais duas antenas que poderiam ter sido mobilizadas, isto se estivessem preparadas para tal. Há mais de ano e meio no Governo, a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, ainda não tinha tratado da ligação das antenas ao satélite. Esta semana, no Parlamento, Constança Urbano de Sousa deitou as culpas ao anterior Governo. «Adquiriu essas duas antenas móveis só que se esqueceu de um pormenor muito importante nessa aquisição que foi dotá-las de ligação satélite», informou. Questionado pelo SOL sobre por que motivo não foi feita a ligação entretanto, o gabinete da ministra informou apenas que antes da conclusão dos vários inquéritos em curso não será possível responder às questões colocadas. No Parlamento, a ministra adiantou contudo que agora «não há tempo» e será feita uma adjudicação direta para contratar o serviço de ligação ao satélite.
Jaime Marta Soares, presidente da Liga Portuguesa dos Bombeiros, admite que, caso se confirme esta situação, trata-se de uma «total irresponsabilidade» do Governo.
O funcionamento das antenas era uma forma de reforçar a rede SIRESP e estava definido pelo anterior Executivo como uma das principais prioridades. Esta foi também uma das principais recomendações da auditoria da consultora KPMG quando, em 2014, avaliou o funcionamento e as falhas do sistema de comunicação de emergência e segurança.
O reforço da rede é também uma das principais reclamações de todas as forças de segurança do país que, desde 2007, têm vindo sucessivamente a avisar os diferentes governos para as falhas do SIRESP. Esta semana, tanto a PSP como a GNR denunciaram que no centro de Lisboa e em locais frequentados por milhares de pessoas a rede de comunicação de emergência não funciona. É o caso do MEO Arena e de todos os centros comerciais da capital.
Com estas duas antenas passavam a estar em funcionamento quatro antenas móveis de apoio ao SIRESP e o SOL sabe que o plano do anterior Executivo era a sua distribuição pelo país. Ficariam duas em Lisboa, uma na zona Centro e outra no Porto, para responderem de forma mais célere a emergências. No que toca ao SIRESP, o plano de atividades da Proteção Civil para este ano tinha outros objetivos, como ações de formação e operacionalização de consolas.
Com Marta F. Reis