Perguntavam-lhe há dias se era agora que ia voltar, depois desta “pausa”, mas para Joana Ribeiro pausa não houve nenhuma. Só nas novelas. Aos 25 anos, a atriz que em 2012 se estreou na novela da SIC “Dancin’ Days”, é a protagonista de “Madre Paula”, a série de Patrícia Müller a partir do seu romance homónimo, para ver a partir desta quarta-feira na RTP. E nesta sua estreia nas séries, é Paula, a freira pobre do Convento de Odivelas que durante 13 anos foi amante do rei D. João V (Paulo Pires) e de quem teve um filho. E diz-se que era trigueira ela, mas Joana Ribeiro aparece de cabelo loiro. O tal regresso à telenovela que estará para breve? “Não, foi para o filme do Terry Gilliam”, sorri. “Era uma espanhola loira.” A quem veremos apaixonar-se por Toby (Adam Driver) no filme que o ex-Monty Python rodou em Portugal e Espanha, “O Homem Que Matou Dom Quixote”. Mas lá iremos, que antes disso há de valer bem a pena vê-la na nova série de época da RTP.
No mesmo ano em que rodaste “O Homem Que Matou Dom Quixote” fizeste também a tua primeira série. Como chegaste à “Madre Paula”?
A série surgiu através de um casting para a Luz, que foi interpretada pela Maria Leite. Fiz o casting e no final o Tiago Marques perguntou-me o que achava de fazer o casting para a Paula, e eu “ok, fixe”, e fiz ali. Ele deu-me uns minutos para decorar a cena, eu fiz o casting…
Qual era a cena?
Era a cena em que a Luz chega ao quarto e a Paula está muito triste porque as freiras ricas destruíram-lhe o vestido e envergonharam-na. Essa cena em que ela estava muito irritada e dizia “quero que ela morra, que arda no inferno”, e onde ela toma a decisão de ser amante do rei. Como sou uma pessoa muito intensa essas cenas correm sempre melhor. Às vezes é uma coisa de intuição, de energia, e o Tiago é realizador e tem sensibilidade para essas coisas, aliás foi ele que realizou a última parte da série. Alguma coisa lhe deve ter chamado atenção e decidiu experimentar. Então fiz esse casting e depois fui fazer a segunda fase já com o Paulo Pires – e aí foi ótimo porque eu já tinha trabalhado com o Paulo, tínhamos feito o filme “A Uma Hora Incerta”, do Carlos Saboga, em que ele era o meu pai e eu tinha uma personagem com complexo de Édipo. E agora de repente tínhamos uma relação amorosa [risos]. Mas foi muito divertido. Gosto muito do Paulo e tudo parecia estar encaminhado para que corresse bem. É daquelas coisas do destino, de se estar no sítio certo à hora certa.
Dizias que és muito intensa. É um traço comum entre ti e a Madre Paula?
Sim. Encontro sempre coisas comuns entre mim e as personagens porque acho que o mais importante é conseguirmos humanizá-las. Mesmo que sejam vilões, temos que conseguir encontrar alguma coisa em comum connosco, nem que seja um sentimento de abandono ou de injustiça, que os vilões têm muitas vezes. Só assim é que também consigo percebê-las e defendê-las. Na Paula, o que percebi que tinha mais em comum com ela era um desejo de liberdade, de não deixar que me definam pelos padrões normais da sociedade. As pessoas gostam muito de pôr as outras em caixas, de fazer julgamentos sem nos conhecerem de lado nenhum, só porque temos um ar x ou y. Fui sempre um bocadinho contra isso porque acho que é importante que as pessoas se conheçam e que tirem tempo para conhecerem os outros. Mas começo a perceber também que não há nada que possa fazer para alterar isso. Há pessoas que fazem julgamentos precipitados, não há nada a fazer, e por mais que queira não posso agradar a toda a gente, vai haver sempre pessoas que vão gostar de mim e pessoas que não vão gostar de mim independentemente do que eu diga. Portanto, digo aquilo em que acredito. Quem gostar, gosta, quem não gostar, não gosta. E sinto que tenho isso em comum com a Paula, porque aquilo tudo revolta-a, o facto de não ter poder sobre a vida dela. A vida dela é decidida pelo pai, pelas freiras ricas… A única decisão que ela pode realmente tomar é a de ser amante do rei – ou a de se envolver com o Conde de Vimioso.
E ela apercebe-se rapidamente disso, que essa são as únicas armas possíveis para uma pessoa da condição dela.
São e ela usa-as como a única liberdade que tem.
Ela diz mesmo que ali ser amante do conde é ser livre.
Exato, e diz: “Não vou ser a freira que faz os doces. Vou ser a freira que come os doces.” É muito comilona [risos].
O que sabias da personagem quando chegaste ao casting?
Eu tinha ouvido falar do rei, mas só isso. Até porque esta história da série é um bocado romantizada. O rei teve inúmeras amantes, mesmo depois da Paula teve várias. Aliás, morreu devido ao uso exagerado de comprimidos tipo viagra da altura. A Paula realmente foi a que durou mais tempo e com a qual teve um filho, um dos Meninos de Palhavã [filhos bastardos de D. João V, reconhecidos pelo rei num documento oficial], mas fora isso não terá sido exatamente o amor que é retratado na série, que foi um bocado romantizado e que é ficção. Fazemos questão de o dizer, porque às vezes há pessoas que levam a mal algumas coisas. Mas acho que foi feito um trabalho incrível. Portugal não tem assim tanto dinheiro para estas coisas e aquela equipa tem todo o mérito do mundo. Trabalhou dia e noite para aquilo ficar bem feito. E os resultados são o que está lá.
Estiveram quanto tempo em rodagem?
Começámos em janeiro, eu saí mais cedo, por causa do filme, em março, mas eles acabaram em abril só. As cenas em que eu tinha mais incidência eram no convento e fizemos essa parte logo no início, então tive dois meses intensivos e depois acalmou. Com o Paulo e com a Sandra foi ao contrário.
A Sandra Faleiro que faz uma excelente Maria Ana da Áustria.
A Sandra é maravilhosa. Soube que tinha que fazer o sotaque não muito tempo antes de começar a filmar, estava a fazer teatro ao mesmo tempo, e fez um trabalho incrível, mesmo. É uma atriz maravilhosa e está tão bem – e não era um papel nada fácil, fazer aquele sotaque com aquela intensidade toda, mas ao mesmo tempo tão real. A Sandra para mim é o ponto alto da série, mesmo. Eu tremia nas cenas com ela. Ainda bem que quase não tinha que falar porque saía das cenas e o meu coração estava a mil. Adorei trabalhar com ela. Mas todo o elenco era incrível. Acho a RTP muito boa a escolher elencos… sinto que na SIC e na TVI há elencos que se escolhem muito com base nas redes sociais. Há pessoas que estão lá por terem redes sociais e pelo número de followers que têm e sinto que na RTP ainda não é bem assim. E espero que a RTP continue a apostar nas pessoas pelo talento delas e não pelo número de followers no Instagram.
Como é que lidas com isso? Não lidas, pois não?
O que pensei sempre foi que quero trabalhar e aprender, e que quero estar nisto à séria. Muitas vezes acontecem aqueles booms, em que as pessoas estão em todo o lado e depois, passados dez anos, não trabalham, porque às tantas é tanta coisa que cansa. A imagem é uma coisa que cansa e é uma coisa que temos que resguardar, como a privacidade. E apesar de não ter nada contra redes sociais, simplesmente não sei como ter – a ideia de ter uma conta no Instagram e pôr lá fotografias minhas a perguntar às pessoas como é que foi o dia delas…
Não tens de todo?
Tenho um privado. Para coisas minhas, com os meus amigos. Já pensei nisso, porque já aconteceu entrarem miúdos no meu Instagram a pedirem-me, e eu percebo. Mas eu sou uma pessoa muito privada. É a minha vida. Há pessoas que fazem isso muito bem, mas eu não fui feita para ter Facebook e Instagram oficiais. Não fui mesmo. E tenho pena que hoje em dia isso cada vez conte mais do que ter talento ou ser-se um bom ator. Há bons atores que estão em casa sem ter trabalho e depois celebridades.
A fazer de atores.
Sim. Não acho justo. Também há atores incríveis que têm redes sociais e acho ótimo, cada um sabe de si. Para mim é que não faz sentido. Sempre pensei que num mundo em que é tão fácil saber-se tudo sobre uma pessoa, se eu não resguardar a minha privada o que é que eu vou ser? É bom termos o que somos guardado para nós e para as pessoas com quem nos damos diariamente. O resto gosto que me conheça pelo meu trabalho, e até gosto que haja aquela dúvida sobre se eu serei mesmo como a personagem ou não. A mim isso é o que me permite sonhar e acreditar num ator. Se não tiver isso, vou deixar de acreditar. E não quero que isso aconteça comigo.
De volta à série, como é que preparaste esta personagem da qual há por um lado alguns registos históricos, mas que a Patrícia Müller também ficcionou?
Primeiro pesquisei na Internet tudo o que havia para pesquisar sobre ela e o rei, tudo. Depois, o que aconteceu foi que esta mulher era muito arrogante. E é a protagonista da série. Então, se é arrogante e mal educada e não há uma fragilidade nela que sensibilize as pessoas, ninguém vai torcer por esta mulher. Ninguém. Ela tinha uma coisa que era ser muito livre e o ponto de partida que eu tive para a Paula foi pensar que ela é um animal selvagem. Não se deixa levar por códigos do que está bem ou não está, do que é suposto fazer e o que não é. Ela falava com o rei como se o rei não fosse rei. Tinha respeito, mas um à vontade que atraía o rei, que via que ela não estava ali só…
Para o servir.
Sim. Ela dava a opinião dela, os conselheiros do rei gozavam [com a situação] e diziam que ela era um “novo ministro”. Era uma mulher inteligente, para além do sexo, que é o que toda a gente acha que esta mulher tinha de fantástico. Acredito nisso mas tinha que ser uma ligação mais forte do que isso, porque sexo o rei tinha com toda a gente e ela não andou propriamente a experimentar pelo o mundo inteiro os truques todos e mais alguns. Era realmente uma mulher diferente, uma mulher que não era daquele tempo. Foi mais por aqui que quis ir, por ela ter um olhar, uma energia e uma luz que mais ninguém tinha. E achei que isso ia fazer com que as pessoas gostassem dela. As cenas que a Patrícia escreveu também me protegeram muito nesse aspeto. Como é que me preparei? Preparei-me com a ajuda do Daniel Gorjão, que é encenador e trabalha agora na RTP também, que trabalha sempre comigo as personagens. Sempre que tenho um casting, ele trabalha comigo e aqui ajudou-me muito na construção física da personagem: como é que ela falava, como é que ela se mexia, como é que ela sentia. Uma coisa que sempre me disseram foi que nenhuma das personagens da série mostrava muitas emoções. As que mostram são a Paula e a rainha, que tinham realmente que dar tudo. E então eu sabia que tinha que ser tudo a mil, que tudo o que as pessoas sentem com uma intensidade normal ela sente mais. Se o rei não pode estar com ela, ela fica destroçada, a morrer por dentro quase, e aquilo tem que ser justificado. Houve muito esse cuidado do ser verdade, do haver verdade em tudo.
Que é a parte mais difícil quando se trabalha nesse limbo. É muito fácil cair-se no exagero.
Eu tinha sempre esse medo, estive sempre nesse limbo. Mas ao mesmo tempo também é interessante esse trabalho de se estar ali no limite, porque na vida real muitas vezes as pessoas são canastronas, são exageradas e são ridículas. Por que é que os atores não podem ser quando interpretam uma personagem? Estou aqui agora a falar contigo e se me estivessem a filmar eu ia achar tudo demasiado exagerado, ridículo. Se estivesse fazer uma cena assim, era overacting. Completamente [risos]. Mas eu gosto de trabalhar assim, gosto de quando as coisas estão naquele nível de quase não se ter noção do que se está a fazer. Claro que é assustador.
Séries ou filmes de época são sempre projetos difíceis, sobretudo com orçamentos apertados como são sempre os nossos. Pelo que vi no primeiro episódio, parece-me que aqui a aposta foi fazer simples para poder fazer bem.
A Vende-se Filmes queria isso e houve mesmo muito cuidado. É aquela coisa de se optar pela simplicidade. Tens filmes incríveis que são feitos num décor com dois ou três atores. O “Paterson”, do Jim Jarmusch: dois atores, um cão, uma casa e um autocarro. O que têm em comum estes filmes é um bom argumento. Acredito mesmo que se o argumento for bom se conseguem fazer coisas incríveis.
Isso e fazer escolhas.
Não podemos ambicionar fazer o que os brasileiros fazem. Eles têm por episódio o mesmo que temos para uma novela inteira. No “Ministério do Tempo”, com o dinheiro que tinham, fizeram um trabalho incrível, porque em Espanha cada episódio custava o mesmo que a série toda.
Essa série já é dos tais projetos que talvez não sejam a melhor aposta para uma indústria como a nossa.
É difícil. O que acho que temos de fazer é encontrar a nossa linguagem. Por exemplo, a “Terapia” correu superbem. Acho que estamos a começar agora a encontrar o nosso caminho. Em relação a esta série, um jornalista dizia-me que o Paulo Pires tinha dito que temos uma história riquíssima, não temos é dinheiro para corresponder a isso. Isto é verdade e é uma pena. O Terry Gilliam, por exemplo, sempre que íamos jantar contava-me histórias de um livro que estava a ler sobre a História de Portugal. Histórias que eu nem sabia. Somos um país muito rico mas infelizmente não temos dinheiro para corresponder a isso. Mas com o trabalho que a RTP tem feito acho que nos próximos anos isto tem tudo para melhorar.
Falando em Terry Gilliam, e porque a conversa já vai longa, conta-me como foi participar n’ “O Homem Que Matou Dom Quixote” com ele e com aquele elenco.
Foi, está feito!
Qual é a história da tua personagem?
É a protagonista feminina. O filme é sobre o Toby, que é o Adam Driver, e o Dom Quixote, que é Jonathan Pryce. O Toby é realizador e está a fazer uma publicidade com o Dom Quixote em Espanha e começa a lembrar-se de um filme que tinha feito dez anos antes, quando saiu da faculdade, sobre o Dom Quixote, onde foi a uma aldeia, a Aldea de los Sueños, em que tinha usado um sapateiro para fazer de Dom Quixote e a filha do dono do bar, que era eu, para fazer de Dulcineia. Entretanto o filme anda para trás dez anos com o Toby, vemo-lo a fazer o filme, a relação dele com o Dom Quixote e com a Angelica, que é a minha personagem. Há ali uma paixãozinha, mas ela tinha 15 anos. Há uma história engraçada dos testes de imagem: o Terry queria que eu fosse loira em mais nova, mas assim que me puseram a peruca eu parecia mais velha. Então pintaram-me o cabelo de loiro para fazer a mais velha e a mais nova tinha uma peruca com franja e aparelho nos dentes. Então eu tinha que estar assim com o Adam meia a seduzi-lo mas de aparelho, a rir. Passados dez anos o Toby e a Angelica reencontram-se numa gruta em que ela estava a dançar. Foi a minha primeira cena na rodagem e estavam uns dois graus dentro da caverna, uma cascata de água e eu de combinação a descer a caverna com uma faca na mão e em sexy. Foi das coisas mais difíceis que já fiz.
Falavas em inglês ou em espanhol?
Em inglês mas com sotaque espanhol, que é muito difícil porque tem de se perceber. Em Espanha eles vão dobrar, mas no resto do mundo tem que se perceber o que digo e às vezes é perigoso esse sotaque. Não faço ideia de como ficou, não vi nenhuma cena ainda, mas o processo foi giro, foi… Sei lá, mesmo agora ainda nem acredito muito bem que aconteceu, foi muito estranho. Mas foi divertido, eram todos muito fixes, mesmo. E o Terry também me ajudou imenso e nunca me fez sentir que não merecia estar ali. Porque é sempre aquela coisa…
Estás preparada para quando o filme estrear?
Não. Não quero pensar nisso. Só agora é que estou a começar a conseguir falar do filme. Não pensei mesmo. Tentei aproveitar enquanto estava lá, porque não sei quando é que vou voltar a ter oportunidade de fazer um filme destes. E a equipa estava toda lá porque acreditava no projeto e é muito bonito quando se sente isso.
Sobretudo um filme que ele já tinha tentado fazer várias vezes.
Há 19 anos. Eu fiquei no filme há um ano, entretanto vi o “Lost in La Mancha” [2002], um documentário sobre o filme não ter sido feito, e pensei: “Bem, o filme não vai acontecer.” Pensei que já tinha sido giro, que já tinha conhecido o Terry Gilliam e pronto. Entretanto houve aquela história de já não ser o Paulo Branco a produzir o filme… Eu só fiquei no filme porque era o Paulo Branco que ia produzi-lo e então o Terry Gilliam veio fazer casting a Portugal, de outra maneira nunca teria acontecido.
Quem fez o casting?
Fiz o casting com o Francisco Botelho e com o Filipe Vargas. Mais uma vez, o Daniel Gorjão ajudou-me na preparação para o filme e só me dizia que nunca tinha visto ninguém preparar-se tanto para um casting: “Parece que te estás a preparar para o filme já.” Tive aulas de flamenco, pus-me a estudar Espanhol… Para o casting só, porque eu tinha que dar tudo. E eu gosto muito de castings. O primeiro que fiz foi para a “Dancin’ Days” e depois nunca mais fiz, e para cinema não há assim tantos castings. Quando estive em Nova Iorque a fazer um workshop de acting for film, antes de tudo, em 2011, sempre me disseram que ter um casting “it’s like the best shit ever, because you can build a character”. Eles diziam que tinhas uma “slice of life” para interpretar e que tinhas aquela oportunidade para trabalhar enquanto ator. E lá sempre me ensinaram a criar uma vida para a personagem, então habituei-me, a quando vou para um casting, saber o que é que a minha personagem fez quando tinha dez anos, o que aconteceu à mãe, ao pai, a ter construída toda uma vida para trás, sempre. Isso para mim é trabalho. Eu gosto muito de trabalhar e adoro isto do faz de conta e de criar as personagens. Não é o chegar lá e debitar texto, isso qualquer pessoa faz. É torná-lo verdadeiro. O mais giro de se fazer uma personagem é a preparação, é o perceber a personagem, e no casting é isso que temos que mostrar. Ninguém gosta e não percebo porquê, eu adoro. Dá-me imensa pica.
E a segurança de saberes que estás ali porque já te viram e acharam que eras a melhor atriz para o papel.
Este ano foi ótimo porque os dois projetos que fiz [”Madre Paula” e “O Homem Que Matou Dom Quixote”] foram por casting. E, sim, tem um sabor diferente. Escolheram-me não por ter uma cara bonita ou por conhecer x ou y, não. Escolheram-me porque viram o casting e acharam que devia ser eu a fazer aquele papel. No outro dia uma jornalista perguntava-me se ia voltar a trabalhar depois desta “pausa”, e eu: “Pausa?”
Das telenovelas [risos].
Mas as pessoas aqui só ligam às telenovelas. Eu pensava: “Fogo, fiz uma série para a RTP, fiz um filme com um realizador e atores brutais.” A nível de trabalho foi o melhor ano da minha vida. No fim do dia é uma questão de sorte, mesmo. De se estar no sítio certo à hora certa. Ao casting da “Madre Paula”, por exemplo, fui porque outra atriz não pôde ir ao casting e a minha agente pôs-me naquele buraquinho, e do nada estava a fazer a protagonista.
Na tua primeira série.
É. Fiquei muito contente, queria muito fazer uma série. Adoro, adoro séries, vejo imensas e lá fora temos atores e atrizes que sempre fizeram cinema a escolherem fazer séries, porque há argumentos às vezes melhores para séries do que para filmes. E então quando soube, fiquei… é que foi tudo ao mesmo tempo. Não sabia nada do filme, em agosto disseram-me que o filme ia ser adiado e pensei que não ia acontecer, em novembro fiz o casting para a “Madre Paula”, soube que tinha ficado, em dezembro disseram-me que o filme ia avançar em março – e eu sabia que a “Madre Paula” era de janeiro a abril. Por sorte só começava o filme no final de março e só precisavam de mim na “Madre Paula” até meio de março. Não tive muito tempo para me preparar para o filme.
Apesar da loucura que foi a tua preparação para o casting.
Sim, mas gostava de ter tido pelo menos um mês de flamenco intensivo. Saltei literalmente de um para o outro, mas pronto, foram duas grandes experiências, não me arrependo nada. Aprendi mesmo muito e isso é que é importante, sairmos de um projeto a sentir que aprendemos. Cresci enquanto pessoa, enquanto atriz não sei, talvez, quem sabe. Mesmo que no fim do dia o resultado não seja maravilhoso, o processo valeu a pena.