Eu era ainda criança quando Medina Carreira foi ministro das finanças (1976/78), pelo que não me sinto à vontade para fazer uma apreciação desse período. Vim a conhecê-lo melhor agora, nas suas intervenções televisivas semanais, onde expunha as suas ideias, muitas vezes com a presença de convidados. Medina Carreira era um pessimista esclarecido. Não sendo economista de formação, mas sim jurista, demonstrava com simplicidade e veracidade, frequentemente com a ajuda dos quadros e gráficos que construía, do grande sarilho em que nos metemos, por virtude das diversas opções e erros económicos que sucessivos governos de Portugal foram fazendo. Mostrou que a nossa economia não percebeu a tempo as consequências de entrar para um sistema de câmbios fixos, como é o euro, embora agora achasse que seria uma asneira ainda maior sair, o que é uma opinião largamente maioritária entre os economistas.
Medina Carreira era alto, magro, e de aspeto frágil. Mas debaixo dessa fraqueza física estava uma determinação férrea. Eu confesso que ficava deprimido depois de ver o programa semanal dele na televisão. Mas tudo o que ele apresentava era real, baseado em estatísticas oficiais. Em 2017 o crescimento económico está a correr bem, e pode ser que continue, embora mais devagar, a bom ritmo nos anos imediatamente seguintes. Tenho a certeza que Medina Carreira ficaria contente por parecemos estar a sair do atoleiro em que, por ignorância e otimismo excessivo, nos enfiamos.
Envio os meus pêsames à família, e desejo paz à sua alma.