A OPA do Montepio

A associação mutualista Montepio Geral, maior acionista do banco Montepio, lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre os 26,5% do capital do banco que não detém. Esses 26,5% estão cotados não em ações, como é habitual, mas em unidades de participação (UP), que apesar de serem capital da instituição, não conferem direito de voto.…

A associação mutualista Montepio Geral, maior acionista do banco Montepio, lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre os 26,5% do capital do banco que não detém. Esses 26,5% estão cotados não em ações, como é habitual, mas em unidades de participação (UP), que apesar de serem capital da instituição, não conferem direito de voto.

Nesta inversão de estratégia, ditada pela necessidade, as UP vão ser compradas a 1 euro cada, o mesmo preço a que foram vendidas há cerca de um ano. Assim, quem as comprou terá apenas um pequeno prejuízo, provocado pelos custos de transação de compra e de venda. Ninguém teve lucros, pois as UP nunca cotaram a mais de 1 euro.

O intuito final, quando a associação mutualista tiver novamente 100% do capital do Montepio, será vender uma parte do banco a associações de misericórdia, especialmente à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), que devido à exploração dos jogos de azar respira saúde financeira, podendo assim dar mais solidez ao banco.

Solidez que o Montepio precisa, pois a sua situação não é brilhante. O seu maior acionista, a associação mutualista, está tecnicamente falida (os passivos são maiores que os ativos). A aprovação dos relatórios e contas é feita com os documentos distribuídos apenas algumas horas antes da votação, impedindo uma análise financeira séria por parte da maioria dos associados. Tudo tem um aspeto pouco profissional.

Estará a SCML, que nada no dinheiro dos totolotos e das raspadinhas, vocacionada para ser um acionista de relevo de um banco? Não, obviamente que não. A verdadeira intenção é outra: é evitar que o Estado coloque mais dinheiro na recapitalização do Montepio, prejudicando as contas públicas.

O presidente da associação mutualista, Tomás Correia, diz que a eventual ligação entre as duas instituições tem por objetivo transformar o Montepio na “Associação Financeira da Economia Social”, seja lá o que isso for. O objetivo de um banco, como o de qualquer empresa, é o de dar lucro. Além disso, se o Montepio focar os seus empréstimos no setor social da economia, ficará com uma carteira de empréstimos pouco diversificada, o que pode ser prejudicial à sua saúde financeira.

Trapalhada após trapalhada, a solução de a SCML entrar no capital do Montepio pode ser a menos má. Devo dizer que não tenho dinheiro nesse banco. Mas, se o leitor tiver até 100.000 euros, pode ficar tranquilo, pois estão garantidos pelo Estado. E, se tiver UP, esta é a ocasião de as vender, perdendo pouco dinheiro. É assim, na bolsa ganha-se e perde-se. Obviamente, se as empresas forem bem geridas, a possibilidade de obter lucros é maior.