Acãopamento. Os cães também estiveram Alive

Deixar os animais de companhia em boas mãos durante três dias pode ser uma dor de cabeça para quem quer ir a um festival. Este ano, o NOS Alive preencheu essa carência com sucesso. O Acãopamento encheu

Este ano, não foram apenas os donos a ter uns dias de diversão. O Acãopamento NOS Alive, gerido por Tiago Patel, esgotou as inscrições no primeiro dia. E é tudo o que o nome indica: um local onde os cães puderam gastar todas as energias enquanto os donos dançavam no Passeio Marítimo de Algés

O NOS Alive terminou oficialmente na noite de sábado para domingo, mas os efeitos físicos de quem viveu quase sem arredar pé desde quinta-feira no Passeio Marítimo de Algés continuam, certamente, a fazer-se sentir esta segunda-feira. Mas hoje não são apenas os festivaleiros que vivem o início da semana a meio gás – este ano, mais de 20 canídeos também tiveram direito a uma estadia de luxo, o Acãopamento, onde podem não ter corrido ao som dos The xx ou dos Depeche Mode, mas tiveram o espaço e meios suficientes para gastar todas as baterias.

A ideia de ter um local onde os cães pudessem estar para que os donos pudessem usufruir do festival sem preocupações surgiu no ano passado, quando Álvaro Covões percebeu que um amigo não ia aos concertos – pelo menos, a todos – para não deixar o cão sozinho em casa. O problema pode parecer estranho a quem não partilhe a vida com animais de estimação, mas é uma preocupação comum para os donos.

E é nesta parte da história que surge Tiago Patel, já veterano nestas andanças – não dos festivais, mas da organização de “acãopamentos” e responsável por uma escola de comportamento animal em que funcionam também campos de férias para os amigos de quatro patas.

Os donos entregaram os bichos na quinta-feira à tarde junto ao Centro Comercial Alegro. Dali, os cães seguiram para as digníssimas instalações da escola Tiago Patel, na zona de Sintra, em Janas. O i ainda chegou a tempo de encontrar a equipa responsável pelo acãopamento – além de Tiago, Ana e Ricardo –, que dali partia com os cães festivaleiros, devidamente aninhados em caixas de contenção dentro de uma carrinha. Refira–se que o serviço foi gratuito.

Novos festivaleiros

Um meio de transporte que, neste caso, foi também novidade para muitos cães como é o caso de Glória, uma labrador de quatro anos que nunca tinha viajado deste modo. Primeiro a medo, depois mais confiante, lá entrou na caixa, a única forma de levar os cães em segurança. A dona, Diana, gerente de uma empresa, foi uma das festivaleiras que resolveram confiar o seu cão à equipa Tiago Patel e ao acãopamento NOS Alive para aproveitar melhor os três dias de festa. “A Glória fica sempre com outras pessoas de família e amigos, é a primeira vez que vai assim”, conta. Diana soube deste serviço através das redes sociais e depois resolveu ir deitar um olho às instalações de Sintra antes de inscrever a cadela. “Um amigo disse-me coisas maravilhosas da equipa Tiago Patel”, explica, afirmando que daí veio a confiança para entregar assim a sua cadela. Com a Glória a caminho de Sintra, foi a vez de Diana seguir para o trabalho e daí para o festival, onde esperava ver, principalmente, The Weeknd e The Kills.

Atividades

É que, no acãopamento, os animais não têm só espaço para correr. Consoante o grupo – se são animais mais jovens, mais velhos, mais sociáveis ou menos habituados a conviver com outras pessoas e cães –, Tiago iria decidir que tipo de atividades poderiam fazer. “Primeiro é preciso ver a dinâmica de grupo”, conta o especialista em comportamento animal enquanto esperamos pelo último cão festivaleiro, o Nero. “Depois há três grandes grupos de atividades que podemos fazer. Ou fazemos atividades de explosão, em que os cães gastam mais energia; atividades de concentração, que são jogos mais táticos em que, por exemplo, se esconde comida para que possam estimular o olfato e outros sentidos; ou, finalmente, aquilo a que chamamos a hora do mimo, em que tentamos sentar todos numa roda”, diz, realçando que esta é uma explicação “muito simplista”.

Enquanto conversamos junto ao balcão de check-in do Acãopamento, somos interrompidos por duas patas pretas que se empoleiram na estrutura: é o Nero a anunciar a sua chegada. Dentro da carrinha que levará estes novos festivaleiros ao seu próprio festival, os outros patudos começam a denunciar alguma impaciência.

Carla, estudante de Engenharia e a dona de Nero, apressa-se a fazer o check–in. “Está aí a comida, um tupperware para cada refeição”, diz a Ricardo enquanto lhe passa uma mochila, explicando que o Nero come duas vezes por dia. Falta mostrar o boletim de vacinas atualizado e o labrador preto, de nove meses, segue para a carrinha de transporte. “Porta-te bem”, diz Carla a sorrir, enquanto nos conta que é a primeira vez que irá deixar o seu animal noutras mãos. Mas não houve hesitações na hora de inscrever o labrador. “Vi na página do NOS Alive já há uns meses que iria haver este serviço e inscrevi logo o Nero”, conta. “Sei que ele vai estar melhor porque fica acompanhado e eu, assim, também vou estar mais divertida. Quando chegar a casa, já não tenho de ir passeá-lo nem de estar preocupada com as horas a que ele é alimentado.” E se dúvidas houvesse de que ali os animais estão apenas noutra casa mas são tratados como membros da família, fica a voz de Ricardo enquanto acaricia o Nero: “Vou só tirar o peitoral e pôr na mochilinha, ok?”

Este foi o primeiro ano em que o NOS Alive disponibilizou os acampamentos para cães, mas a escola Tiago Patel e este serviço continuam à disposição dos donos durante todo o ano – embora as inscrições para agosto já tenham esgotado.