18 de julho de 1964. A monoquinose, epidemia como peste da Idade Média!

A imprensa portuguesa zurziu sem perdão a introdução do monoquíni na moda feminina. Coisa considerada para adolescentes ambiciosas e velhotes libertinos…

Houve um tempo em que Rudi Gernreich criou receitas de sopas. Não ficou famoso com elas.

Nascido em Viena, em 1922, apanhado pelo Anschluss de Adolf Hitler, a anexação alemã, viria a estabelecer-se em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde estudou arte no Los Angeles City College. Se as sopas não o atiraram para a primeira página dos jornais, a criação do monoquíni fê-lo de forma abundante.

Ao fim ao cabo, Gernreich, fez evoluir o biquíni – “a bomba atómica da mulher”, como foi considerado, ganhando o nome do atol do Pacífico onde a França fez testes nucleares – para a sua expressão mais curta, subtraindo-lhe a parte superior.

Para muita gente, um choque.

Para outros, um passo na direção da aproximação dos sexos. Afinal, se há anos que os homens tinham deixado de ser obrigados a tapar o peito em público e a usar aqueles fatos de banho de corpo inteiro, porque não havia a mulher de poder fazê-lo?

Margaret Anne Peggy Moffitt, essa sim natural de Los Angeles, atriz sem relevo nas décadas de 40 e 50, modelo nos anos 60, também ficou registada na história deste pequeno passo para o homem e gigantesco salto para o universo do sexo oposto. No dia 4 de junho de 1964 fez manchete um pouco pelos jornais e revistas de todo o mundo ao ser fotografada em monoquíni. Uma estreia.

Rudi Gernreich não teve medo da polémica. Sabia que se levantaria como um vendaval após a sua criação ser tornada pública.

Nos Estados Unidos, em França, na Inglaterra, as sociedades já eram suficientemente abertas para que o monoquíni fosse encarado como uma peça da moda do futuro imediato mais do que como uma simples excentricidade.

Portugal, por seu lado, envolto nos seus exageros católicos apostólicos romanos, tão próprios da época, viu entornarem–se pelas colunas impressas autênticos libelos acusatórios perante os peitos desnudos das damas modernas. Houve quem alertasse, dramaticamente: “Fazem mal as raparigas em exibir o seio que ainda não amamentou. Fazem mal porque se destina, virtualmente, a dar vida à semente das gerações futuras. E porque isso representa concorrência desleal quanto às mães que sacrificam a estética à sua missão na Terra.”

Concorrência desleal às mães? Esta era de estalo! Mortificava-se, assim, o monoquíni tal como se relembrava essa outra amaldiçoada invenção norte-americana: o striptease.

O monoquíni como doença, também: “Da biquinose evoluímos para a monoquinose. Epidemias, como as pestes da Idade Média! Não faz vítimas, a não serem as ambiciosas adolescentes e alguns velhotes libertinos. Biquinose… monoquinose. Decrescendo. Depois, qualquer dia, a zeroquinose. Sejam francas, raparigas: optem pelo nu integral! A zeroquinose! Socialmente é menos contagioso.”

As ocidentais praias lusitanas demoraram o seu tempo a aceitar esta americanice.

Arma secreta do feminismo, acusava–se. Esgotado o reportório dos penteados, as mulheres desprovidas das vantagens masculinas das motoretas e das melenas dos teddy-boys despiam-se. E ainda havia quem se queixasse…