O enorme bloco de gelo que há meses se vem descolando da plataforma Larsen C, na Antártica Ocidental, entrou finalmente à deriva esta quarta-feira, produzindo um dos dez maiores icebergues alguma vez registados, com a dimensão de duas vezes o Luxemburgo, dez vezes a cidade de Madrid ou quatro vezes a Cidade do México.
Não há como exagerar a dimensão do novo icebergue, que pode perturbar a circulação de navios comerciais caso se dirija para as águas mais quentes do norte, onde se pode fragmentar em blocos de gelo mais pequenos. O A68 – nome mais provável para o novo icebergue – tem 5800 quilómetros quadrados e um bilião de toneladas (um milhão de milhão).
#BREAKING: Giant Antarctic iceberg breaks free of Larsen C ice shelf: 5,800 sq km iceberg = London X 4 / New York X 7/ Luxembourg X 2 pic.twitter.com/h2XNZHsDDh
— Amichai Stein (@AmichaiStein1) July 12, 2017
“Trata-se de um dos maiores icebergues registados e o seu futuro é difícil de prever”, explica o líder do projeto Midas, que monitoriza o bloco de gelo, num comunicado publicado esta quarta-feira. “Pode manter-se numa peça apenas, mas é mais plausível que se divida em vários fragmentos.”
“Uma parte pode manter-se na zona durante décadas enquanto outras partes podem andar à deriva até ao norte”, prossegue, onde podem intrometer-se em rotas comerciais e turísticas, comuns a navios que circulam no sentido da América Latina. Alguns cientistas afirmam que o novo icebergue pode chegar até às ilhas Malvinas.
O descolar deste enorme bloco de gelo é sobretudo perigoso para a plataforma Larsen C, um segmento na volumosa Península Antártica, que perde assim 12% da sua superfície e fica mais vulnerável. A criação de icebergues como o A68 não é invulgar e pode não estar relacionada com alterações climáticas, mas o que se pode seguir, sim.
Larsen C Ice Shelf was 4th largest ice shelf in the world (48,600 km²); having just lost 12% of its total area, it’s now the 5th largest pic.twitter.com/YJjgrARFSa
— The Antarctic Report (@AntarcticReport) July 12, 2017
É que a grande superfície de gelo que se deslocou esta quarta servia como uma barreira de proteção para alguns glaciares continentais – sobre a terra –, expostos agora a temperaturas mais quentes e outros elementos. A própria plataforma Larsen está em perigo. As suas irmãs, Larson A e B, fragmentaram-se em 1995 e 2002, respetivamente.
“Esse gelo que está sobre o continente pode derreter-se e, aí sim, aumentar os níveis do mar”, explicava esta semana o geólogo espanhol Jerónimo López ao “El País”, afirmando que o A68 já estava a flutuar e não terá impacto imediato sobre o nível dos oceanos, ao contrário do que acontecerá com plataformas ou blocos que se podem desprender por causa da sua deriva.