PSD e CDS atacaram ontem o governo de António Costa com todas as armas políticas que tinham à mão, traçando um retrato sombrio de um governo que não conseguiu lidar com as adversidades e é rápido a sacudir a água do capote quanto a assumir responsabilidade nos erros.
O tom da falta de responsabilidade, do colapso do governo e do Estado parecia deixar antever algo mais que acabou por não se concretizar: uma moção de censura ao governo. Houve notícias esta semana de que a liderança do CDS chegou a ponderar a sua apresentação.
“O Estado está a colapsar”, disse Montenegro, acusando o primeiro-ministro de seguir, “com pompa e circunstância”, sem “assumir responsabilidades”, demonstrando que existe atualmente no executivo um “modelo de desresponsabilização.”
À surpresa de ver o líder da bancada parlamentar do PSD – que participou pela última vez nessa condição – a responder ao primeiro-ministro, e não Pedro Passos Coelho, somou-se o tom cataclísmico com que o deputado social-democrata se referiu ao funcionamento atual do executivo.
“O governo não tem liderança ou tem uma liderança muito frágil”, referiu Montenegro, acentuando que a falta de legitimidade eleitoral (por não ter sido o partido mais votado) se agrava agora, com a “autoridade diminuída” do primeiro-ministro, num “processo de degradação” generalizado.
A palavra “colapsar” foi repetida várias vezes, inclusive para atacar Bloco de Esquerda e PCP por não reagirem ao facto, segundo ele, de o governo estar a fazer exatamente o contrário do que assinou no acordo de apoio parlamentar. Por isso, sublinhou o social-democrata, “a democracia está a colapsar”.
Pedro Passos Coelho, mais tarde, na sua intervenção, haveria de bater na mesma tecla: “Agora que ficaram expostas as fragilidades, as contradições, as simulações, o calculismo e o populismo latente, agora começa a sentir-se que precisamos coletivamente de mais qualquer coisa.”
“Quando se vê o Estado falhar clamorosamente, como todos nós vimos, a autossuficiência e a arrogância estão mais deslocadas do que nunca e atirar areia para os olhos só agrava a situação”, salientou o líder da oposição.
Para Passos Coelho, é claro: “De repente, o governo-maravilha e a maioria estável, duradoura e coerente”, a braços com uma série de eventos imprevistos, mostrou “toda a sua insuficiência” e deu “sinal de enorme desorientação e desarticulação”.
A tese de Passos Coelho é simples: este governo só consegue lidar com as boas notícias, as más travam-lhe a ação e desarticulam-lhe o comportamento. “Para as más notícias e para preparar as mudanças de fundo, a pensar estrategicamente no futuro, ou não existe ou é simplesmente desconcertante e desmoralizadora” a sua ação.
A tragédia de Pedrógão Grande e o roubo de armas em Tancos trouxeram uma “infantilização política” que “não se coaduna com a enorme responsabilidade que hoje têm na governação do País”, afirmou, para depois acrescentar: “A meio da legislatura, o país descobriu que a economia pode até estar a andar melhor, mas que a responsabilidade política está a fracassar em grande estilo.”
À questão da responsabilidade, ou da falta dela, também se referiu Assunção Cristas, que voltou a pedir a demissão da ministra da Administração Interna e do ministro da Defesa: “Fique sabendo que se nada fizer, se mantiver tudo como está, então tudo mas tudo o que acontecer daqui para a frente nestas áreas já não tem qualquer para-raios, tudo lhe será diretamente assacado. A responsabilidade passa agora a ser sua e só sua.”
“Com a conjuntura de 2016 e 2017, com o governo que os portugueses elegeram nas urnas, não tenho dúvidas de que se tivéssemos um governo reformista tínhamos um país ainda mais próspero”