Leio hoje que Tony Blair, primeiro-ministro britânico eleito pelo partido trabalhista entre 1997 e 2007, intensificou, com um ensaio publicado na imprensa britânica, a sua campanha “no-Brexit”. Isto é, Blair defende que apesar do resultado do referendo do ano passado, o Reino Unido não deve sair da União Europeia (EU). Penso que qualquer pessoa de bom senso deve pensar o mesmo.
As negociações para o Brexit começaram a 29 de março deste ano, têm um prazo máximo de dois anos antes que o Reino Unido seja expulso da UE, e o que consta é que não estão a correr bem, com as duas partes com posições muito afastadas. Aliás, outra coisa não seria de esperar. A UE não se pode permitir a chegar a um acordo que seja vantajoso para o Reino Unido, pois isso iria incentivar outros países a saírem. Os britânicos terão de pagar um preço elevado para sair, mesmo que isso também tenha custos para a economia europeia. Londres é a capital financeira da Europa, e provavelmente vai deixar de o ser. Além disso, fábricas de produtos de alto valor acrescentado, que permitem pagar salários elevados e dinamizar a economia, como de automóveis ou de partes de aviões, que agora circulam livremente pela UE, passarão a pagar direitos alfandegários à entrada na União. Isto, no limite, poderá conduzir ao encerramento dessas fábricas e à sua reabertura dentro da União. A competição para quem fica com essas unidades fabris será intensa, como já o é por uma parte da burocracia da UE, a Agência Europeia do Medicamento, com mais de 20 candidaturas para albergar a agência depois do Brexit (o Porto, a meu ver, e infelizmente, tem poucas hipóteses).
Por fim, a questão estratégica. Se o Reino Unido sair passaremos a ter uma EU mais centrada nos problemas do centro da Europa e menos nos do Atlântico, o que será prejudicial para Portugal. E, só mesmo para finalizar, os britânicos, com o seu pensamento não-conformista, enriquecem a UE. Apoiem Tony Blair, façam um novo referendo, não deem ouvidos a pessoas com uma forte pancada (como é o caso do ministro dos negócios estrangeiros, Boris Johnson), ou a demagogos racistas, como o líder do partido de extrema-direita UKIP Nigel Farrage, e fiquem na UE. Os britânicos não são essenciais, mas fazem muita falta.