PSD e CDS prestaram-se esta semana à sua versão parlamentar da história de Pedro e o Lobo. O tom cataclísmico como trataram o Estado da Nação, com sinais de colapso do Governo, do Estado e até da democracia, deverão ter deixado muitos a pensar que se face à situação atual se clama colapso, que se poderá gritar se esse colapso realmente acontecer?
Luís Montenegro, o líder cessante da bancada parlamentar do PSD, foi quem mais conjugou o verbo colapsar na sua investida contra o Executivo de António Costa. Para o deputado do PSD, esse é o resultado da falta de liderança do primeiro-ministro. Ou se não falta, pelo menos uma «liderança muito frágil».
Os incêndios em Pedrógão, o roubo das armas em Tancos, mostraram, segundo PSD e CDS, que dentro do Governo há um «modelo de desresponsabilização», como lhe chamou Montenegro, ou «sinal de enorme desorientação e desarticulação», na perspetiva de Pedro Passos Coelho.
O líder dos sociais-democratas preferiu discursar da bancada e não interpelar diretamente o primeiro-ministro, deixando esse trabalho para Montenegro. Costa não deixou a saída do deputado de líder da bancada em branco, aproveitando para lhe desejar as maiores felicidades no futuro, dando a entender que falava das ambições deste em suceder a Passos Coelho.
Descansado à esquerda, onde Bloco e PCP proferiram ligeiras críticas e buscaram algumas certezas para a negociação do Orçamento do Estado de 2018, Costa aguentou o embate duro da direita, onde para a moção de censura só faltou mesmo a própria moção.
«Agora que ficaram expostas as fragilidades, as contradições, as simulações, o calculismo e o populismo latente, agora começa a sentir-se que precisamos coletivamente de mais qualquer coisa», afirmou Passos Coelho, sem concretizar que mais qualquer coisa era essa e sem adiantar como se poderá ultrapassar este estado de ansiedade no comportamento das instituições.
À alegada falta de rumo gritante do país, que PSD e CDS apontaram como estando a pôr em causa o normal funcionamento das instituições, os líderes de PSD e CDS gritaram lobo e foram de férias.
«O balanço é, felizmente, o fiasco dessas premonições do deputado Passos Coelho», disse Carlos César, Não eram as premonições do colapso, mas as de 2016, onde se anunciava o investimento a cair, o emprego estagnado, o orçamento em risco. «Ao invés, o investimento subiu, o emprego aumentou, o crescimento é uma constante na economia e o valor do défice é saudado por todas as instituições europeias», acrescentou o líder da bancada socialista.
O mesmo referiu em relação a Assunção Cristas e aos cartazes que trouxe o ano passado para o Estado da Nação e que César enumerou como tendo sido todos desmentidos pelo comportamento da economia no último ano.
«Um, dois, três, quatro, cinco seis, sete cartazes – sete cartazes do CDS para o ecoponto», ironizou o deputado do PS. Costa já o tinha dito antes por outras palavras, em vez de hecatombe, um país sereno: «Portugal vive hoje um clima de maior confiança e serenidade, onde a concertação social está mais ativa e se abriu a porta ao diálogo social».
Para o primeiro-ministro, «há quem se associe ao coro dos arautos da desgraça» e até «quem tente desmentir a realidade», mas o governo governa e cumpre o prometido.
E até a oposição acabou por concordar na premissa, ao centrar os ataques nas questões de Pedrógão e de Tancos, na falta de liderança, e dando de bandeja a boa prestação económica.
Não tivéssemos o discurso de Passos Coelho nas mãos e até custava identificar a frase com a voz do seu autor: «A realidade mostra-nos também que o país tem registado progressos importantes nos esforços de consolidação orçamental, no crescimento e na abertura da economia, sobretudo do lado das exportações de bens e serviços, e nas expectativas favoráveis dos agentes económicos».
Assunção Cristas que foi mais curta e incisiva, até porque, ela sim, interpelou o primeiro-ministro, também não deixou de referir «o recorde na arrecadação de impostos» este ano, mesmo que para falar na «falta de transparência» nas despesas do Estado.
A líder do CDS foi mais dura que Passos, obrigando António Costa a reagir. Foi por causa de Cristas que se soube que a remodelação desta sexta-feira não incluía qualquer ministro.
E «quando o país mais precisava de sentir confiança nas instituições (…) quando o país mais precisava de autoridade», nas palavras de Assunção Cristas, Costa havia ido de férias, desaparecido de circulação. E Costa respondeu à interpelação, mostrando que estava à espera, desviou o golpe e contra-atacou com esse assumir de toda a responsabilidade pelo que se passa no seu Governo e com esse «obviamente, não demito nenhum ministro» de herança humbertodelgadiana.
Esquerda suave
A esquerda assistia aos ataques de PSD e CDS ao Governo e ouvia críticas por acréscimo por falta de combatividade na confrontação do Executivo – Montenegro chegou a incluir o colapso da democracia no seu discurso pelo comportamento de BE e PCP.
Catarina Martins ainda salientou «os hábitos de política velha que ainda persistem» e Jerónimo de Sousa foi buscar uma pedra basilar do discurso comunista, o corte nos compromissos europeus, para ouvir Costa dizer-lhe que não valia a pena ir por aí. E ninguém foi por aí