A Geração i, como chamamos à geração dos millennials, nascida aproximadamente entre 1985 e 1995, está na sua maioria já formada, a trabalhar ou à procura de um rumo no universo laboral. A forma como encaram o mundo dos “adultos” e dos empregos é diferente da visão das gerações passadas e, um pouco por todo mundo, vê-se a evolução da preocupação dos grandes gestores em adaptar as políticas das suas empresas a esta nova camada de trabalhadores.
Ainda estávamos em 2011 e já a famosa PwC, conhecida pelos seus serviços de auditoria e consultoria, lançava um estudo em que avisava que “os millennials são fundamentais para o futuro dos negócios”. O estudo dizia: “As aspirações de carreira, as atitudes sobre o trabalho e o conhecimento das novas tecnologias irão definir a cultura do século XXI. Os millennials são importantes porque não são apenas diferentes daqueles que foram antes. Também são mais numerosos do que os anteriores, desde a geração dos Baby Boomers, que está agora a entrar na fase da reforma”. Prevê-se que em 2020 50% da camada laboral do mundo seja da geração millennial e isso torna urgente que as empresas ganhem consciência de como é que esta geração se comporta e o que é que pretende da vida. Segundo a opinião geral das grandes empresas, como é o caso da PwC, o maior desafio perante esta geração é conseguir atrair e manter esses novos elementos nas suas equipas.
O que querem os millennials? Há um paradoxo curioso na forma como os millennials encaram a vida do trabalho. Se uns não se importam de trabalhar em algo que não gostam para que possam amealhar para investir nas suas paixões e hobbies, outros têm um enorme desejo de se concretizarem na vida profissional e de, através do emprego, “marcar a diferença”. É assim que o “The Guardian” explica que são vários os mitos sobre esta geração no mundo do trabalho e que um deles é precisamente sobre o senso comum considerar que “os millennials elevam demasiado a fasquia devido a uma sensação de direito”. Segundo o jornal britânico, os jovens desta geração não querem contentar-se com um trabalho insatisfatório que dificilmente permitirá que sobrevivam, mas, ao mesmo tempo, não têm escolha senão aceitar um emprego insatisfatório para que possam dar-se ao luxo de perseguir as suas paixões.
É esse desejo de combinar valores pessoais com o trabalho que marca a Geração Y, de acordo com Peter Fleming, professor da Cass Business School em Londres, citado pelo mesmo diário. “Existe um elemento existencial que é bastante proeminente na forma como esta geração escolhe trabalhar, eles dizem: ‘Não estou disposto a desistir da maior parte da minha vida por isso, porque sou uma pessoa, um ser humano que quer ser feliz”. Curiosamente, um dos outros cinco mitos mais famosos sobre os millennials no mundo do trabalho é que “trabalham para viver em vez de viverem para trabalhar”.
Ann-Victoire Meillant coescreveu “From Millennials with Love”, uma coleção de experiências dos seus colegas millennials no local de trabalho. Comentou ao “The Guardian” que “o que encontramos na nossa pesquisa e nos colaboradores é que esta geração não gosta da frase ‘equilíbrio trabalho/vida’, mas em vez disso falamos sobre a ‘integração trabalho/vida’ ”.
Na passada terça-feira uma companhia de teatro lançou um anúncio de trabalho em que procuravam “millennials que compreendessem o mundo real”, uma vez que esta seria a terceira vez que procuravam alguém para a posição, mas que ninguém se mostrava interessado. A polémica surgiu depois de terem criado um anúncio de emprego em forma de carta dirigida aos millennials em que se diziam “não impressionados” com os candidatos. O Tea House Theatre, em Vauxhall, no sul de Londres, publicou um anúncio para um cargo de administração cujo salário era abaixo do salário médio inglês e que dizia que a vaga “não devia ser assim tão difícil de preencher” já que “Uma velha costumava gerir toda a Mountview Academy com um computador IBM”. Segundo a BBC, a publicação foi entretanto retirada e não houve comentários por parte da empresa quanto à reação nacional através das redes sociais. Daniel Wainwright, da unidade de dados da BBC, escreveu que se calhar a resposta à falta de vontade dos millennials em concorrer a este tipo de proposta fosse porque a gestão do teatro não tinha noção de como atrair um millennial, principalmente quando o salário em questão é abaixo do normal e tendo em conta que teriam de residir na caríssima cidade londrina.
Ambiente de trabalho é tudo
Embora o desemprego e a precariedade sejam uma realidade nesta geração, quando se trata das grande empresas e de cargos mais tradicionais o caso muda de figura. Se antigamente eram as empresas que se viam em posição de escolher quem fosse o melhor candidato, hoje, devido ao grande nível de formação desta geração, as empresas são confrontadas com candidatos de grande qualidade, mas que não são facilmente conquistados, levando a que o ambiente do local de trabalho tenha de ser alterado e se comece a dar mais importância ao bem-estar do trabalhador.
Em Portugal
Embora as empresas portuguesas tenham vindo a evoluir no que diz respeito ao entendimento intergeracional e nos métodos de atrair millennials para as suas equipas, o desejo de conseguir algo melhor num futuro próximo é comum na maioria dos millennials participantes no estudo da multinacional Michael Page.
A recrutadora Michael Page entrevistou 119 pessoas em Portugal acerca do mercado de trabalho e 66,2% (792 inquiridos) acreditam que terão uma melhor situação profissional nos próximos 12 meses. Apenas 2.4% (29) dos inquiridos consideram que estarão numa situação pior do que a que se encontram atualmente e cerca de 26,3% (314) preveem estar na mesma situação.
A perceção dos entrevistado em relação ao atual ambiente do mercado de trabalho evoluiu favoravelmente se comparado com o período homólogo de 2016, tendo registado uma evolução de 56.5%. Porém, os números ainda deixam a desejar no que à felicidade no local de trabalho diz respeito, já que do total dos entrevistados, oito consideram “excelente” 393 consideram “bom”, 669 dos inquiridos consideram o ambiente de trabalho “pobre” e 106 “muito pobre”.