Seca. Aldeias podem vir a precisar de ser abastecidas por camiões cisterna

Portugal tem pela primeira um Plano de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca.  

Quase todo o território em seca meteorológica severa ou extrema e um quarto das barragens e albufeiras do país em níveis críticos, abaixo de 40% da capacidade, sobretudo na bacia do Sado que apanha o Baixo Alentejo e o Litoral. Na barragem de Monte da Rocha, em Ourique, a água chega apenas a 15% da capacidade – há apenas 1100 hectares ocupados, quando a albufeira tem capacidade para 102 mil. O alerta para secas cada vez mais violentas nos países do mediterrâneo, fruto das alterações climáticas, não é novo. Mas este ano o impacto é cada vez mais notório. Em Espanha e Itália temem-se os piores anos de colheitas de cereais das duas últimas décadas e, em Portugal, o INE também já deixou previsões pessimistas de decréscimos generaizados. Já existe também uma pré-reserva de camiões cisterna, no valor de um milhão de euros, caso venha a ser necessário abastecer as populações.

Os níveis de água nas albufeiras mais baixos dos últimos 22 anos, sobretudo a Sul uma vez que no Norte Litoral há bacias acima da média, levaram o Governo a tomar medidas.

Em maio o Conselho de Ministros tinha aprovado a criação de uma comissão permanente da seca para prevenir e acompanhar a situação. Face ao agravamento das condições, a primeira reunião teve lugar esta semana e produziu o primeiro Plano de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca do país, com um conjunto de medidas que deverão ser prosseguidas pelas autarquias dos concelhos mais afetados. Ainda assim, fonte oficial do Ministério do Ambiente explicou ao SOL que a aplicação está nas mãos dos municípios. A comissão determinou que 15 concelhos devem implementar medidas de redução dos consumos urbanos de água, como por exemplo diminuir a rega de jardins e hortas ou proibir o enchimento de piscinas, assim como fechar fontes decorativas. Mas a adoção destas medidas não tem força de lei: depende de editais das autarquias. A comissão de peritos tem estado a reunir com os autarcas, num trabalho que visa ser de proximidade. Mas Arronches, um dos concelhos sinalizados, já fez saber que não tenciona impor restrições ao uso de água. A autarca Fermelinda Carvalho, ouvida pela Rádio Portalegre, não gostou de saber pela imprensa das medidas e garantiu que não existem problemas de abastecimento, reconhecendo ainda assim a necessidade de haver poupanças. Em Vila Real, concelho para o qual não foram recomendadas para já medidas de redução dos consumos urbanos, a autarquia já deu nota pública da preocupação e admite que em agosto possa faltar água em cinco freguesias. Vai ser lançada uma campanha para o uso racional de água e limitar a rega.  

O plano definido pela comissão permanente da seca define outras medidas, nomeadamente restringir a utilização de recursos hídricos nas barragens mais críticas (Monte da Rocha, Vigia, Póvoa e Medas e Albufeira de Vilar-Tabuaço). Aqui poderão entrar restrições à produção de eletricidade, ainda que o recurso a outras fontes de energia como carvão, gás natural e eólica supram eventuais quebras. Pretende-se também apoiar os agricultores para que encontrem soluções para dar de beber aos animais sem que sejam feitos novos furos de água.

Se a situação tenderá a agravar-se, só o correr do verão o dirá. Os mapas do Observatório Europeu da Seca, da Comissão Europeia, apontam ainda assim para um cenário muito mais complexo do que aquele que se registou nos últimos anos. Nesta página, o mapa à esquerda representa a situação há precisamente um ano. Nem a Península Ibérica nem Itália estavam debaixo da ameaça que este ano se tornou real. Já o mapa à direita representa a situação na Europa nos primeiros dez dias de julho, com as manchas a amarelo a sinalizar locais com défices de precipitação (seca meteorológica), as zonas a laranja a representar défices de humidade e as zonas a vermelho a identificar locais onde a conjugação destes dois fatores provoca stress vegetativo, que não só compromete colheitas e alimentação de animais mas também favorece a propagação de incêndios.