O Instituto Nacional de Medicinal Legal e Ciências Forenses fez ontem o levantamento de todos os processos relativos a corpos que deram entrada nos seus serviços desde o passado dia 18 de junho e garante que não foi obtida qualquer informação adicional relativamente à que já existia, reiterando assim que as autoridades têm conhecimento de 64 mortes no incêndio de Pedrógão Grande.
O esclarecimento foi prestado pelo Ministério da Justiça, em comunicado, que refere que “sem prejuízo da verificação que as entidades responsáveis já fizeram, ou possam vir a fazer, havendo suspeita sobre eventuais vítimas além das 64 já referidas, devem as mesmas ser transmitidas ao Ministério Público”. Já a Procuradoria Geral da República reconheceu ontem a existência de uma 65.ª vítima, resultado de um atropelamento, situação que era conhecida da justiça “desde o primeiro momento” mas que as autoridades não consideraram para já vítima direta do fogo, uma vez que a mulher não sofreu queimaduras. No comunicado do Ministério da Justiça, não existe referência a esta vítima mortal, cuja morte não terá assim sido analisada em conjunto com as das restantes vítimas.
Segundo o Ministério da Justiça, na sequência do incêndio de Pedrógão Grande, que deflagrou no passado dia 17 de junho, as Equipas Responsáveis por Avaliação de Vítimas Mortais, compostas por elementos da GNR, Polícia Judiciária e médicos, “fizeram a identificação dos locais e, por ordem do Ministério Público (MP), a remoção dos corpos das vítimas”.
O ministério explica que na noite de domingo, dia 18 de junho e madrugada de segunda-feira, dia 19, foram transportados para a Delegação Centro (de Coimbra) do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, os corpos de 61 vítimas mortais. Terá então sido já na segunda-feira de manhã, dia 20, que se levantaram os corpos de mais duas vítimas mortais que, entretanto, tinham sido referenciados pela GNR à PJ e ao INMLCF, e que também foram transportados para a Delegação Centro do INMLCF, perfazendo o total de 63 vítimas mortais cujos corpos foram localizados e removidos. No comunicado do ministério, lê-se que a estas 63 vítimas mortais veio posteriormente juntar-se um bombeiro da corporação de Castanheira de Pera, falecido já no hospital, para onde tinha sido transportado na sequência dos graves ferimentos sofridos no combate ao incêndio.
mortes diretas e indiretas
O governo diz que contabilizou mortes por queimaduras e inalação de fumo, critérios usados para definir as vítimas diretas do fogo e que excluem mortes indiretas. Soube-se ontem, porém, que pelo menos o caso desta mulher atropelada e que poderá ser uma vítima indireta já estava a ser investigado, não sendo público se há mais vítimas mortais nestas circunstâncias na investigação em curso. Até à divulgação de nova informação por parte da imprensa, nunca tinha sido referido a existência de outras mortes nem tinha sido explicitada a existência de critérios na contabilização das mortes.
Os dados vindos a público suscitam outras dúvidas. Segundo a informação oficial, a morte do bombeiro de Castanheira de Pera, que sofreu queimaduras graves depois de a viatura onde seguia ter sofrido uma colisão, foi contabilizada como vítima direta, o que não aconteceu com a mulher alegadamente atropelada durante fuga.
Para Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, a discussão de critérios diretos e indiretos não faz sentido numa catástrofe desta dimensão. Ao i, o dirigente defendeu que deveria ser apurado “até às últimas consequências quantas pessoas morreram e a partir daí as causas das mortes que se deram naquele espaço de tempo em determinado local”.
Lista com mais nomes O i noticiou ontem a existência de uma lista de vítimas criada por uma empresária com a ajuda da população com a intenção de ser erigido um memorial, processo que acabou por revelar mais nomes que os 64 indicados pela tutela. Logo ao início da manhã, o i corrigiu a lista em que 3 nomes se apresentavam repetidos, porém recebeu chamadas de mais familiares que indicaram nomes que não estavam indicados anteriormente. É o caso de Sérgio Duarte, que terá morrido ao salvar a namorada, que sobreviveu, em Pinheiro do Bordalo, em Pedrógão Grande. A lista entretanto corrigida desta empresária aponta para 69 vítimas mortais, a que pode acrescer o caso de Sérgio.