Os habitantes muçulmanos de Jerusalém declararam esta quinta-feira vitória ao fim de 12 dias de protestos pacíficos e violentos contra o governo israelita e a sua decisão de instalar novos dispositivos de segurança no Pátio das Mesquitas, um dos locais mais sagrados no islão e judaísmo.
“As orações vão regressar à al-Aqsa”, lançou o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, desconvocando as rezas de protesto dos últimos dias e atenuando os receios de que o dia de hoje pudesse acabar em confrontos ainda mais violentas do que os que se viram na última semana e meia.
Telavive não parece ter tido outra opção. O governo israelita instalou detetores de metal nas entradas para o Pátio das Mesquitas – Monte do Templo, para os judeus – respondendo à morte de dois polícias seus, que foram lá abatidos por três árabes israelitas que acabaram também mortos.
Palestinianos e o resto do mundo muçulmano rejeitam a ocupação israelita da cidade velha, onde se localiza o terraço sagrado, discutivelmente a pior ferida deixada pela guerra de 1967 – a ocupação não só não é reconhecida pelas Nações Unidas, como é também lá duramente criticada.
Sempre que o governo israelita demonstra o seu poder no Pátio das Mesquitas as respostas tendem a ser violentas, como aconteceu já em anos e séculos anteriores. Em 2015, aliás, no momento em que uma terceira intifada parecia em ebulição, o encerramento israelita do terraço foi encarada como “uma declaração de guerra”.
Crise e celebração
Essa resposta aconteceu na primeira sexta-feira depois da morte dos dois agentes e instalação dos detetores. Um jovem palestiniano invadiu a casa de colonos judeus na Cisjordânia e matou três pessoas antes de ser atingido e detido. Ainda na mesma sexta da semana passada, os militares israelitas mataram três palestinianos em confrontos.
Um quarto palestiniano foi abatido no sábado e, no domingo, no primeiro incidente internacional, um cidadão jordano tentou matar um soldado israelita na embaixada de Amã com uma chave de fendas. Acabou abatido, assim como um outro homem aparentemente apanhado no fogo cruzado.
O governo israelita – que ignorou os alertas dos seus próprios generais – ainda tentou substituir os detetores de metal esta semana por sofisitacadas câmaras de vigilância com reconhecimento facial, mas não conseguiu que as autoridades muçulmanas que gerem o Pátio das Mesquitas e responsáveis palestinianos desconvocassem os protestos, que em parte se fizeram com grandes rezas no exterior das muralhas.
Esta quinta-feira, porém, à medida que milhares de pessoas entraram pela primeira vez em duas semanas no Pátio, algumas beijando o chão, outras dançando e muitas distribuindo doces, já não restavam sequer os postes onde foram instaladas as câmaras.
Houve ainda confrontos com a polícia e disparos de canhões de água e gás lacrimogéneo. Mas o ambiente entre os muçulmanos eram de celebração. “Nunca tivemos uma vitória como estas para o nosso povo”, dizia esta quinta-feira à Al-Jazira Raed Saleh, habitante palestiniano de Jerusalém Leste.
Os conflitos na cidade velha quase provocaram uma crise diplomática. O rei jordano não gostou que o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu tivesse recebido o soldado atacado na embaixada de Amã como um herói e, no fim de semana, exigiu que o soldado prestasse declarações no seu país pelas mortes no ataque de domingo, sob o risco de cortar laços diplomáticos com Telavive.
Em Ancara, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan quase convocou uma intifada declarando que os israelitas estavam a atacar o caráter islâmico do Pátio das Mesquitas, o terceiro local muçulmano, depois apenas de Meca e Medina.