José de Azeredo Lopes, ministro da Defesa, soube apenas do furto ao paiol de Tancos no dia em que o Exército o comunicou publicamente – a 29 de junho – e tardou em comunicá-lo à ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, e à ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
O sistema que coordena os serviços de segurança com as forças policiais, ao que o SOL, apurou demorou dois dias (mais de 48 horas) a entrar em acção precisamente devido à ausência de comunicação entre os responsáveis do Executivo nas primeiras 24 horas após o furto do armamento militar.
O vazio nesse período de tempo inicial já fora exposto por Helena Fazenda, secretária-geral do já referido Sistema de Segurança Interna, que revelara ter tomado conhecimento do furto apenas 24 horas depois deste ser comunicado e por via da imprensa – não por via executiva. Por outras palavras: o sistema de resposta imediata foi tudo menos imediato. O assalto ocorreu no fim de semana anterior, como noticiou o SOL na edição seguinte.
Tal como Helena Fazenda, os Serviços de Informações e Segurança (SIS), que pertencem à Unidade de Coordenação Antiterrorismo, souberam do assalto pela comunicação social, sendo que a Procuradoria-Geral da República já revelou suspeita que estejam em causa crimes de associação criminosa, tráfico e terrorismo internacional.
O primeiro-ministro, António Costa, afirmara que haviam sido acionados «os mecanismos próprios da segurança interna» designadamente a reunião da Unidade de Coordenação Antiterrorista «logo a seguir» ao roubo, mas tendo em conta que os membros dessa Unidade afirmam ter sabido do caso pela imprensa há contradições que ficam por esclarecer. E não são únicas.
«Verificou-se então que, com grande probabilidade, este acontecimento não teria qualquer impacto no risco da segurança interna, designadamente associação a qualquer risco de atividade terrorista nacional ou internacional», reagiu na altura António Costa.
O problema, além da PGR já ter assumido suspeitas de «terrorismo internacional», está no general Pina Monteiro, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que ao lado de Costa, em conferência de imprensa, disse que os materiais furtado «provavelmente não terão possibilidade de ser utilizados com eficácia», pois estavam selecionados para ‘abate’, enquanto em audição parlamentar afirmou, afinal, que o «material não é obsoleto», continuando a poder ser usado, ainda que não com «toda a sua eficácia».
Granadas de mão, granadas foguete, granadas de gás lacrimogéneo e explosivos encontram-se no inventário perdido. A 20 de julho, o ministro da Defesa anunciou o encerramento dos paióis nacionais de Tancos devido a dificuldades logísticas e de segurança. À data do fecho desta edição, o gabinete de Azeredo Lopes não respondeu às questões apresentadas pelo SOL. A 12 de setembro o homem da Defesa terá audição parlamentar.