Jerusalém em polvorosa

O Governo de Benjamin Netanyahu tirou os controlos a tempo das preces de sexta, mas os confrontos prosseguiam 

Palestinianos e muçulmanos israelitas quase não tiveram tempo para celebrar em Jerusalém. Os confrontos entre muçulmanos e israelitas em redor do Pátio das Mesquitas recomeçaram na quinta-feira apesar de o Governo de Benjamin Netanyahu ter cedido aos protestos e pressão da comunidade internacional, retirando nesse mesmo dia todos os novos controlos de segurança com que pretendia aumentar a vigilância no terceiro local mais sagrado do islão. A vitória dos palestinianos que há 13 dias rezavam sob protesto fora dos muros do terraço a que os judeus chamam Monte do Templo foi breve. Ao final da tarde, pouco depois de os protestos terem sido desconvocados pela Autoridade Palestiniana, a polícia israelita disparou com canhões de água sobre a multidão de muçulmanos que entrou em debandada no terraço sagrado e feriu mais de cem pessoas. E as manifestações que se temiam ontem pelos controlos aconteciam na mesma.

Dois palestinianos foram abatidos pela polícia israelita ontem, no final das mais importantes rezas semanais e ao final da manhã local. Um na Cisjordânia, outro em Gaza. Os protestos romperam também em cidades como Belém, Ramala e Hebrom, já não sobre os detetores de metal e câmaras de vigilância que durante cerca de uma semana e meia estiveram às portas do Pátio das Mesquitas, mas contra a violência de quinta-feira. As tropas israelitas impediram ontem de manhã a entrada de jovens muçulmanos no terraço sagrado, receando mais violência, uma medida habitual que, em todo o caso, tende ela própria a causar desacatos. Foi o que aconteceu ontem, segundo descrevia a BBC, contando que nem todas as concentrações de jovens muçulmanos – só os maiores de 50 puderam entrar no Pátio –  dispersaram às ordens das autoridades israelitas.

Na base das semanas de violência está o homicídio de dois agentes israelitas, no dia 14 de julho. Respondendo ao ataque por três jovens israelitas árabes, Netanyahu instalou detetores de metal e mais tarde câmaras nas entradas para o Pátio das Mesquitas, onde só os muçulmanos são autorizados a rezar e os dois polícias foram abatidos a tiro. As medidas de segurança, instaladas sem autorização do conselho que gere o Pátio, geraram grandes manifestações, uma vez que a ocupação israelita da cidade velha de Jerusalém e o Pátio das Mesquitas é uma das feridas mais sensíveis no mundo muçulmano. Entre ataques na embaixada israelita de Amã e contra colonatos na Cisjordânia, morreram nove pessoas e dezenas ficaram feridas até que o Governo retirou os controlos.