Este fim de semana há penas de cinco a dez anos para quem realizar manifestações na Venezuela. A decisão foi anunciada quinta-feira pelo Ministério do Interior, que a justifica como maneira de impedir pertubrações ao importante voto de domingo para a Assembleia Constiuinte. A oposição desobedeceu quase de imediato. Os protestos, prometeram, serão redobrados. Nas palavras do deputado oposicionista Fredy Guevara: «Não nos ajoelharemos. Não falharemos. Lutaremos.»
As eleições de hoje serão uma espécie de apogeu das manifestações dos últimos meses. Desde que o Supremo Tribunal venezuelano iniciou a crise com uma tentativa de retirar poder à maioria opositora na Assembleia Nacional, em abril, morreram já 113 pessoas. A maioria manifestantes, mas vários polícias também. Este fim de semana, no caminho final para umas eleições com que Maduro fraturou até as linhas do oficialismo, teme-se que a violência atinja o ponto máximo. O Governo venezuelano diz que vai colocar 230 mil soldados nas ruas e proteger assim as urnas. A oposição, que diz que Maduro quer mudar a Constituição para se agarrar ao poder, não parece disposta a recuar.
A proibição de «qualquer tipo de reuniões públicas, manifestações, ajuntamentos e outros atos semelhantes» – como descreve o Ministério do Interior – foi anunciada no final de uma greve geral de dois dias que paralisou Caracas e provocou novas manifestações e confrontos. Só nesses dois dias morreram seis pessoas, segundo calculava ontem o El País, numa indicação de que a violência se está a agravar à entrada do fim de semana decisivo. No comício de encerramento da campanha para a Constituinte, Nicolás Maduro insistiu em dizer que mudar a Constituição criada por Hugo Chávez é a única via para pacificar as ruas e convidou a aliança de partidos opositores a sentarem-se à mesa para negociar. Os opositores, no entanto, que já sofreram na popularidade depois de uma primeira tentativa de diálogo com o Governo de Maduro, não davam na sexta feira indicações de quererem discutir um lugar numas eleições que parecem desenhadas para entregar o triunfo aos círculos de Maduro.
Pressão exterior
A comunidade internacional passou a semana a tentar mediar um entendimento entre oficialismo e oposição, mas sem sucesso aparente. O Presidente colombiano ainda foi no início do mês a Cuba, procurando o apoio do aliado venezuelano em Havana. Não conseguiu nada. Bruxelas entrou no debate esta semana, dizendo que as eleições para a Constiuinte só se arriscam a aumentar a tensão no país, mas a Comissão Europeia ficou àquem das sanções exigidas pelo Governo espanhol, que ontem dizia não descartar «a adoção de medidas adicionais» contra Caracas, onde vê uma situação próxima do «ponto crítico» – Madrid tenta por canais secretos diálogos de última hora, de acordo com o El País.
Só os EUA avançaram esta semana com novas sanções contra o oficialismo venezuelano. Washington não foi pela via do bloqueio às exportações petrolíferas como desejavam alguns críticos e que representariam um rombo inédito nos cofres de Caracas, mas puniram várias figuras do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), incluindo elementos do topo do Governo de Nicolás Maduro. As empresas internacionais avançaram na quinta-feira. A operadora colombiana Avianca afirmou que vai suspender os voos para a Venezuela por causa de «limitações de segurança» e a operadora americana Delta Airlines anunciou também esta semana que se vai retirar por completo do país por causa de uma disputa com o Governo.