O oficialismo venezuelano radicaliza-se e a oposição dá provas de estar a fazer o mesmo. Um pequeno comando com cerca de 20 homens armados tomou por alguns momentos neste domingo parte de um dos mais importantes edifícios militares do exército, o Forte Paramacay, na cidade de Valência, onde estão grande parte dos veículos blindados das Forças Armadas da Venezuela.
O pequeno grupo publicou um vídeo nas redes sociais anunciando a sublevação, resistiu algumas horas nos setores que tomaram, dispararam rajadas de espingarda automática, mas foram rapidamente dispersados e detidos.
O comandante geral do Exército Bolivariano assegurou já durante a tarde que um dos atacantes morreu e outro ficou gravemente ferido. “Fomos vítimas de um ataque terrorista, paramilitar, mercenário contra a paz”, anunciou Jesus Suárez Chourio, assegurando que as Forças Armadas estão do lado do governo.
Ataque
Ao início da noite deste domingo ainda se recolhiam os detalhes do ataque, que ocorreu durante a madrugada local – manhã em Portugal. A notícia foi dada horas depois pelo número dois do Partido Socialista Unido (PSUV), Diosdado Cabello.
O “El País” cita fontes militares e conta que o movimento foi liderado por um antigo capitão da Guarda Nacional chamado Juan Caguaripano, afastado em 2014 por supostamente participar num plano para derrubar o governo de Nicolás Maduro. O ex-militar parece ter convencido algumas tropas no Forte Paramacay a agarrar em armas e ocupar parte do edifício.
O que aconteceu em seguida está em disputa. Alguns meios locais afirmavam ao início da noite que ainda existiam focos de combate, travados entre fugitivos do comando e as tropas leais a Maduro. O governo, porém, assegurava à mesma hora que não existiam combates em Valencia ou em qualquer outra zona do país e os residentes venezuelanos pareciam confirmá-lo.
Dezenas de pessoas juntaram-se ao pequeno grupo rebelde, que instigou a população para se colocar do seu lado. Em Valência ergueram-se barreiras em chamas.
Violência
Parte dos detidos deste domingo pareciam ser cidadãos que respondiam ao apelo de Caguaripano nas redes, onde o antigo capitão surgiu rodeado de homens armados, de camuflado.
Nas imagens, Caguaripano – esse era o nome que praticamente todos os órgãos relataram – dizia que o grupo agia para “restabelecer a ordem constitucional” do país e que, juntos, se declaravam “em legítima rebeldia, unidos com o bravo povo da Venezuela para invalidar a tirania assassina de Nicolás Maduro”.
“Isto não é um golpe de Estado”, declarava Caguaripano, “é uma ação cívico-militar para restabelecer a ordem constitucional.”
O breve levantamento armado do capitão Caguaripano acontece um dia depois de as autoridades venezuelanas cercarem o edifício do Ministério Público e destituírem a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, antiga aliada de Hugo Chávez que, no decorrer do projeto da Assembleia Constituinte de Maduro, se virou contra o governo.
Ortega Díaz é uma das mais importantes vozes críticas no seio do PSUV e este domingo declarou-se ainda em funções como procuradora. “Aqui não há governo, pela Constituinte ninguém votou”, disse num encontro de opositores em Caracas.