A Disney está a preparar-se para lançar o seu próprio serviço de streaming, num golpe cujas consequências se mediram logo no dia em que foi avançada a notícia por uma queda de 4% das ações da empresa fundada por Reed Hastings e Marc Randolph. Um passo em frente na adaptação a um novo modo de consumir entretenimento, reposicionamento que o CEO da Walt Disney, Robert Iger, entende como “extremamente importante”, anunciado na apresentação dos resultados do trimestre numa altura em que a multinacional se debate com quedas nas receitas, sobretudo na internet, onde a descida foi de 9%.
O novo serviço de streaming, que se prevê um forte concorrente tanto para a Netflix como para a Amazon, serão na verdade dois. Um dedicado ao desporto, construído em torno da ESPN, cadeia televisiva desportiva com os direitos de transmissão de competições como a MLB e a NFL, que passarão a poder ser vistos através da aplicação para smartphone já existente, entre os 10 mil eventos desportivos que se prevê que sejam transmitidos anualmente pelo novo serviço. E um outro, voltado para os filmes e programas televisivos da Disney e da Pixar – por saber fica se nesse pacote estarão também incluídos os títulos da Marvel, adquirida pela Disney em 2009 num negócio de 4 mil milhões de dólares e que agrega franchises como “Os Vingadores” ou Capitão América, além da Lucasfilm, detentora dos icónicos “Indiana Jones” e “Star Wars”, adquirida pela Disney em 2012 por 4,06 mil milhões.
Ainda sem nome, os dois serviços serão suportados pela BamTech, empresa tecnológica que serve por exemplo a HBO, e da qual a Disney detém uma percentagem de 33% adquiridos no ano passado por mil milhões de dólares, que, adiantou Iger, a empresa tenciona alargar para os 42%, num negócio que envolverá 1,5 mil milhões de dólares.
Contas à parte, que as que interessam ao leitor são outras, é a partir de 2019 que os conteúdos da Disney deixam de estar disponíveis na Netflix. Quer isto dizer que novos títulos como “Toy Story 4”, a sequela de “O Rei Leão” dirigida por Jon Favreau, o novo “Dumbo” que está a ser preparado por Tim Burton ou ainda o próximo capítulo de “Frozen – O Reino do Gelo”. Na dúvida está ainda o próximo capítulo da saga das estrelas, “Star Wars: O Último Jedi”, que terá estreia nos cinemas em dezembro próximo. Em relação aos canais por cabo, Iger asseverou na mesma reunião que apesar de as negociações ainda não terem começado tem “toda a confiança do mundo” na capacidade da Disney para manter acordos favoráveis com eles. O serviço de streaming da ESPN será lançado já no próximo ano.
O serviço será lançado nos Estados Unidos, mas aos analistas o CEO da Disney disse que deve ser encarado como um serviço global. “O lançamento de um serviço diretamente ligado ao consumidor marca o início de uma estratégia completamente nova para a empresa, que aproveitará a oportunidade incrível que o avanço da tecnologia nos deu para reforçar as nossas grandes marcas.”
A Disney tinha já feito uma experiência de transmissão dos seus próprios conteúdos em 2015, com o lançamento no Reino Unido e na China, depois alargado à Austrália, do Disney Life que, por um valor equivalente a cerca de 10 euros mensais, disponibilizava títulos de “Bambi” ou “O Livro da Selva” ao icónico franchise da Pixar “Toy Story”, mas também blockbusters como a série “Piratas das Caraíbas”. “Ninguém está mais bem posicionado para liderar a indústria nesta nova era dinâmica”, afirmou o CEO da Walt Disney Company ao anunciar o novo serviço concorrente à Netflix e à Amazon. “E nós estamos a acelerar a nossa estratégia para estar na linha da frente desta transformação.”