Quénia. Odinga clama fraude e os confrontos regressam a Nairobi

O veterano opositor volta a queixar-se de manipulação eleitoral. Morreram duas pessoas na capital. 

O guião das três últimas presidenciais quenianas repetia-se esta quarta-feira. À medida que as autoridades atribuíam a vitória ao presidente Uhuru Kenyatta, o opositor Raila Odinga queixava-se de fraude na contagem de votos e a violência regressava às ruas da capital, Nairobi, onde esta quarta morreram duas pessoas em confrontos com a polícia.

Em todo o caso, as escaramuças desta quarta parecem muito longe daquelas que aconteceram há dez anos, quando o mesmo Odinga se insurgiu contra o resultado das presidenciais, gerando uma espiral de violência étnica e, ao fim de várias semanas, cerca de 1200 mortos. Por enquanto, aliás, Odinga pede paz.

Com cerca de 94% dos resultados já apurados, Odinga surge inevitavelmente derrotado, com 44,8% dos votos contra os 54,4% que o presidente Uhuru Kenyatta registava. Separa-os um fosso de 1,3 milhões de eleitores, segundo contas do “Guardian”, um intervalo muito maior do que o que se supunha à ida para o voto de terça.

Odinga diz que não é surpresa, visto que afirma ter provas de que houve uma invasão informática durante a noite que alterou o resultado das máquinas de votação. “A eleição de 2017 foi uma fraude”, disse o opositor, que afirmou ter provas da intervenção informática. “Desta vez apanhámo-los”, escreveu no Twitter. 

Suspeitas

Os confrontos nas ruas de Nairobi podem aumentar de tom e os aliados de Odinga parecem reservar-se o direito de mobilizar os apoiantes no futuro. O veterano opositor já foi derrotado nos tribunais quando tentou disputar os resultados de 2013 – como disputou as contagens das duas eleições anteriores.

Os observadores das Nações Unidas asseguravam esta quarta que vão estudar as alegações de ataque eletrónico e fraude. A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quénia – um dos órgãos mais respeitados no país – diz, por sua vez, que registou “algumas discrepâncias” entre os resultados iniciais e os boletins registados à boca das urnas.

O assassínio e tortura de um dos principais responsáveis da comissão das eleições do Quénia, uma semana antes do voto de terça-feira, assim como o ataque a um dos gabinetes de Odinga que se preparava para fazer uma contagem paralela dos resultados, fazem aumentar as suspeitas de manipulação eleitoral.

Por enquanto vale a vitória de Kenyatta. Odinga, por seu lado, parece no fim do caminho. Aos 72 anos, não se espera uma quinta candidatura à presidência, o que pode animar os ânimos nas ruas. As eleições de terça foram em muitos sentidos um desfecho entre etnias e duas forças políticas concorrentes.

Odinga é filho do primeiro vice-presidente e Luo, uma etnia que se queixa de ser marginalizada. Kenyatta é filho do primeiro líder do Quénia independente e Kikuyu, o grupo étnico de três dos quatro ex-presidentes.