INE: grande distância entre os números e as pessoas

Indicador de subutilização do trabalho, usado pela primeira vez, permite ver quem está sem trabalhar mas não conta para os números do desemprego

O número de pessoas desempregadas é quase o dobro do apontado pela taxa oficial de desemprego. O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou ontem que em Portugal há 461,4 mil pessoas desempregadas, número que corresponde a uma taxa de 8,8% – e na estatística juntou pela primeira vez o “indicador de “subutilização do trabalho”, que junta as pessoas que contam para a taxa de desemprego e as que ficam de fora, por inatividade ou subemprego.
Lê-se nos dados publicados ontem pelo INE que “no segundo trimestre de 2017, a subutilização do trabalho abrangeu 903,3 mil pessoas e a taxa correspondente ascendeu a 16,6%. Ambos os indicadores correspondem a praticamente o dobro da população desempregada e da taxa de desemprego”.

No entanto, salienta o INE, à semelhança do mercado de trabalho (ver texto ao lado), também aqui a realidade está a melhorar. A atual taxa de 16,6%, por comparação com os três primeiros meses do ano, caiu 8,4%, ou 82,8 mil pessoas, e em relação ao segundo trimestre do ano passado o recuo é ainda maior: 13,7% (143,4 mil pessoas).

De acordo com o documento, o indicador “tem descrito uma trajetória descendente e próxima da população desempregada, registando decréscimos frequentes” desde o segundo trimestre de 2013. Esta taxa chegou a aproximar-se dos 26% no terceiro trimestre de 2013 e no início de 2016 estava em 21%. 

De acordo com o INE, a “subutilização do trabalho agrega outros conceitos: a “população desempregada, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inativos à procura de emprego mas não disponíveis e os inativos disponíveis mas que não procuram emprego” e é complementada pela “taxa de subutilização do trabalho”.

A categoria de “inativos à procura de trabalho mas não disponíveis” corresponde a pessoas que tenham procurado ativamente trabalho ao longo de um período específico, mas não que não estavam disponíveis para trabalhar.
Já os “inativos à procura de trabalho” são pessoas que, estando disponíveis para trabalhar, não tinham procurado emprego ativamente no período especifico. O conceito de “subemprego de trabalhadores a tempo parcial” diz respeito às pessoas que dizem que querem trabalhar mais horas do que as que habitualmente trabalham e que estão disponíveis para começar a trabalhar essas horas, mas não encontram.

Uma pessoa está enquadrada no conceito de “população desempregada” se tiver uma idade entre os 15 e os 74 anos e em determinado período estava em simultâneo sem trabalho remunerado nem qualquer outro; disponível para trabalhar e tinha procurado ativamente um trabalho.

Na análise publicada ontem, o INE alerta para o facto de ser “necessário ter em conta que se trata de uma medida que sobrestima” o contributo potencial do subemprego de trabalhadores a tempo parcial, uma vez que “não considera as horas de trabalho realizadas por estes empregados” e tembém a população ativa alargada, uma vez que os dois subgrupos de inativos considerados têm, em geral, uma menor ligação ao mercado de trabalho do que os desempregados. Ou seja, há aqui uma “menor probabilidade de transição para a população ativa, de uma maior proporção de pessoas que nunca trabalharam ou que deixaram de trabalhar há mais de dois anos”, estes últimos desempregados de longa duração. O INE revela que o desemprego de longa duração também caiu no período em análise. Há um ano estava nos 6,9%, nos primeiros três meses deste ano fixou-se nos 6% e acabou o segundo trimestre nos 5,2%.

Alerta no sul da Europa Ainda assim, continua a ser uma realidade indiscutível em Portugal, apesar de não ser o único país onde acontece.

De acordo com um estudo publicado pela Fundação Bertelsmann, em alguns países da Europa, o desemprego de longa duração constitui já um “problema estrutural” e alcançou “níveis preocupantes” no sul do continente.
Espanha (10,8%), Grécia (17,7%) e Croácia (10,4%) figuram mesmo como os países onde o desemprego de longa duração se tornou crónico.

Neste conjunto de países o problema afeta mais de 10% da população ativa e abrange de forma significativa também as pessoas com mais qualificações.

“Em alguns países, o desemprego de longa duração transformou-se num fenómeno massivo que coloca em perigo a recuperação económica da Europa”, explica ainda o documento. 

O estudo mostra ainda que, desde 2008, o índice de desemprego de longa duração quase duplicou, aumentando de 2,5% até 4,3%.

Com S.M.S.