No PS de Matosinhos há muito tempo que os socialistas não se entendem. As guerras são duras e impiedosas como provaram os acontecimentos na Lota de Matosinhos (ver página seguinte) na campanha eleitoral para as europeias, em 2004.
Passaram mais de dez anos, mas os conflitos internos continuam. O resultado está á vista com a existência de três candidato da família socialista: Luísa Salgueiro, candidata do PS; António Parada, que se demitiu do PS no dia do lançamento da candidatura da deputada socialista; e Narciso Miranda, que liderou a câmara entre 1976 e 2005, eleito pelo PS. “Isto é muito duro. Há muitos anos que isto é muito duro”, desabava um socialista, que tem acompanhado as guerras internas.
Luísa Salgueiro, a candidata do PS, admite que “Matosinhos tem sido no mundo autárquico um exemplo pelas piores razões” e acrescenta estar a trabalhar “para que Matosinhos seja notícia pelas boas razões”. A candidata socialista garante que um dos objetivos da sua candidatura foi unir o partido e recuperar “aqueles que há quatro anos saíram no grupo do Guilherme Pinto, fruto das escolhas do PS”.
Nas últimas eleições autárquicas, o PS, liderado por António José Seguro, escolheu António Parada como candidato à câmara de Matosinhos. Uma decisão que levou à saída de Guilherme Pinto e de outros socialistas.
Quatro anos depois, a escolha do candidato voltou a ser conturbada, mas desta vez foi António Parada a entregar o cartão de militante. “Cansei-me das divergências”, diz Parada, que concorre pelo movimento de cidadãos “António Parada Sim!”. Uma das particularidades da candidatura do ex-socialista é que tem o apoio do CDS. Ao i, António Parada garante que tem ao seu lado tanto socialistas como militantes do PSD e explica a demissão do PS por não se rever nos métodos “estalinistas” do presidente da distrital, Manuel Pizarro. “A candidatura [de Luísa Salgueiro] está ferida de morte. Foi imposta pela distrital. Normalmente as decisões que são tomadas em Matosinhos, que são as melhores, são sempre armadilhadas pela distrital e pela direção nacional. Há quatro anos fui escolhido democraticamente e depois tive a distrital e a nacional a armadilhar-me o terreno. E não foram os líderes”, diz.
O candidato garante que “enquanto não devolverem a câmara de Matosinhos aos matosinhenses e o PS aos socialistas de Matosinhos, o PS não será nunca pacífico”.
Aos dois candidatos da área socialista juntou-se Narciso Miranda, que liderou a autarquia durante quase 30 anos com a camisola do PS. “Sou candidato porque respira-se um clima de grande crispação no universo partidário em Matosinhos. Há profundas divisões e alguns equívocos. Os candidatos dos dois maiores partidos são escolhidos no Porto e impostos pelo Porto a Matosinhos, sobretudo relativamente ao maior partido em que é a primeira vez que isso acontece na história democrática”, diz, em declarações ao i Narciso Miranda, que foi expulso do partido por ter apresentado uma candidatura independente nas eleições autárquicas de 2009.
Narciso, que foi desafiado a voltar ao partido e rejeitou, garante que o clima de guerrilha permanente só se apoderou do PS depois da sua saída. “Desde que eu saí, há doze anos, a instabilidade passou a ser o fio condutor da vida política e político-partidária em Matosinhos. Não me venham dizer que a culpa é minha”.
O ex-autarca diz que quer colocar a sua “experiência” e “conhecimento ao serviço da população”. António Parada aposta na criação de emprego, no turismo e em captar investimentos para o concelho. Luísa Salgueiro é a única que promete seguir o caminho traçado por Guilherme Pinto. “Apostamos no crescimento económico e na área social. Vamos captar novos investimentos com uma política fiscal amiga das empresas”, promete a socialista.