Tenho na minha frente um homem tranquilo.
Os anos passaram em catadupa sobre nós dois, mas isso não mudou a forma de nos vermos um ao outro.
Profissões paralelas, por vezes.
Pode ser que, pela teoria euclidiana, elas só se encontrem no infinito. Mas as nossas desmentem isso, cruzando-se há quase três décadas.
Alfredo Farinha – um mestre!; um mestre! – escreveu certa vez: «Quando comecei a escrever em jornais, o meu propósito, a minha ambição, o meu sonho, era ser jornalista da Grande Imprensa. Ir à procura da vida no meio da vida, ir ao encontro dos acontecimentos onde eles acontecessem, conhecer os problemas dos homens, devassar o segredo das coisas desconhecidas, saber as razões dos êxitos e dos fracassos da grande sociedade, ouvir os políticos falarem de política, os economistas de economia, os artistas de arte, descrever os contrastes entre os dramas da fome e os esplendores da opulência, contar as histórias verídicas da paz e da guerra – e analisar, comentar, criticar tudo o que visse e ouvisse, com lealdade, com verdade, com o desejo de esclarecer e de ser útil».
Nunca li, em qualquer outro lado, uma tão bela declaração de amor a uma profissão que merecia não ter sido abastardada, vilipendiada por dentro, suicidária.
Hoje, tenho na minha frente um homem tranquilo e há entre nós uma amizade que o tempo reforçou.
Estou aqui para ouvi-lo, para questioná-lo, para que se exponha. Ele que sempre prezou uma teimosa descrição.
Estamos na Rua do Norte, no Bairro Alto, como já estivemos em tantos sítios do mundo.
E não me surge a pergunta inicial.
Apenas a conversa desenrolando-se ao ritmo da tarde morna, o sol alto do meio dia, tempo da sombra mais curta.
Comecemos, se não te importas, apenas por uma reflexão. Tua, claro. E que seja sobre a relação que tens hoje para com Portugal…
Há tempo em que pensamos que é na uniformidade, ou na unicidade, da opinião que está a virtude. Depois vamos amadurecendo. Hoje faço questão que existam certas pessoas que não me apreciam…
Que te sejam distantes…
Escuta. O que faço questão, hoje em dia, é dessa mesma diferença. Que tenhamos posições diversas, por vezes contrárias. Não que as minhas ideias sejam melhores ou piores do que as dos outros… não é disso que se trata.
Há aqui um pormenor que quero introduzir na conversa. Ou um ‘por maior’. Houve um tempo que, aqui, em Portugal estiveste no topo. Foste considerado o exemplo do que deveria ser o treinador português. Vendo bem, representavas o futuro. Sentes isso?
Sinto, claro.
Leia a entrevista completa na edição impressa do SOL.