A perigosa situação criada pela Coreia do Norte

O sempre possível cenário de um conflito intercontinental aponta para a emergência de uma situação de crise ao mais elevado nível entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte 

A rápida transformação do atual ‘sistema unipolar mundial’, liderado pela única superpotência marítima dominante e que vigora desde a implosão da anterior União Soviética – embora tendencialmente a evoluir para um sistema multipolar restrito, devido à afirmação de outros centros de decisão de influência intercontinental –, poderá ser sempre avaliada pela forma como as capacidades militares, tecnológicas e científicas das maiores potências vão progredindo e sendo exibidas, nomeadamente no que respeita à detenção de armas de destruição massiva. 

Tais tecnologias tenderão a enformar e a moldar o ambiente de segurança global que se prospetiva, no qual o poder militar na sua vertente aeroespacial será preferencialmente utilizado.

Entre as maiores transformações que vieram a alterar as mais convencionais posturas geopolíticas e geoestratégicas que vigoraram e conseguiram manter a paz durante a Guerra Fria, a proliferação e a detenção das tecnologias de armas nucleares por parte de Estados radicais, ideológicos ou notoriamente crentes da sua ‘missão divina na Terra’, constitui uma possibilidade iminente de acontecer um holocausto nuclear. 
 
Estas tecnologias irão determinar e enformar os tipos de conflitos que poderão vir a ser desencadeados por Estados proscritos, nomeadamente por aqueles que visam a alteração do valor geopolítico de posição dos respetivos territórios, seja a que custo for, inclusive a ocupação expansionista de novas áreas de influência. 

No caso do regime ultracomunista de Pyongyang, a simples disponibilidade de dispor de mísseis de médio e longo alcance armados com ogivas nucleares constitui uma ameaça, mesmo para aqueles Estados que fisicamente se encontram distantes de um teatro de operações militares, apesar de muito mais fortes. 

Citam-se, como exemplo, as contínuas ameaças da Coreia do Norte aos EUA, que poderá tornar-se um previsível alvo de mísseis intercontinentais armados de ogivas nucleares ou químico-bacteriológicas e «ser transformado num mar de chamas». Esta postura de inaceitável belicismo poderá provocar, por reação, a necessidade estratégica por parte dos EUA de garantirem a eliminação desta ameaça real e credível que se perfila nas suas fronteiras de segurança, por via dos novos mísseis norte-coreanos, mas que passa agora a afetar integralmente a sua defesa imediata e longínqua.

O sempre possível cenário de um conflito intercontinental aponta para a emergência de uma situação de crise ao mais elevado nível entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte (e a China?), embora – e por enquanto – a opção militar não pareça estar a ser considerada como forma de neutralizar o denominado ‘poder funcional’ do regime totalitário comunista de Kim Jong-un, ‘the supreme leader’, o último da linhagem divina dos seus líderes.             

Constata-se, então, que a dissuasão mudou de configuração e de formas de pressão, a tal ponto que a única superpotência mundial parece afinal estar a ser contida nos seus objetivos por uma fanática e proscrita ditadura em estado de bancarrota! 

Esta aparente ‘fragilidade’ dos EUA face à atitude intransigente e às contínuas provocações de Pyongyang baseia-se na confirmação (obtida por sensores aeroespaciais, satélites e aviões de vigilância eletrónica) de que a Coreia do Norte dispõe já de meios ofensivos para atingir toda a Coreia do Sul, o Japão, a ilha de Guam (extremo ocidental do território dos EUA neste oceano, situada a cerca de 2.000 quilómetros dos dois territórios chinês e norte-coreano), o Hawai, o Alasca e a própria América do Norte, através de mísseis intercontinentais do tipo nuclear.

Tudo isto parece condicionar a postura norte-americana, que denuncia fraqueza; o que poderá enviar um sinal perigosamente errado aos outros Estados, os quais – e face ao perigo – poderão considerar adquirir armas com capacidade nuclear para disporem de meios de dissuasão suficientemente credíveis. 
A acontecer, esta eventualidade será de todo inconveniente porque então os caminhos da paz ficarão definitivamente comprometidos e mais perigosos.