Li ontem, domingo, que Luís Marques Mendes, enquanto comentador da Sic, tinha anunciado a boa nova aos portugueses: o PIB (total da produção do país) tinha crescido mais de 3% no segundo trimestre deste ano, comparando com o mesmo trimestre do ano passado, no que tinha sido o maior crescimento trimestral desde o ano 2000. E fiquei espantado com a impressionante rede de contactos do homem, que lhe até permitiam divulgar no domingo informação que seria apenas oficialmente tornada pública hoje, segunda-feira.
Os números foram de facto divulgados hoje, e são dececionantes, não só para a qualidade das previsões de Luís Marques Mendes como analista económico, mas como também para a generalidade dos residentes em Portugal. O crescimento do PIB no segundo trimestre, comparando-o com o segundo trimestre do ano passado, foi de 2,8%. Crescer 2,8% num ano não é mau, mas muita gente, não apenas Luís Marques Mendes, esperava mais. E o próprio ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, afirmou na televisão que o crescimento do PIB no primeiro semestre deste ano seria na casa dos 3%.
Ainda por cima, esmiuçando um bocadinho os números, eles são mesmo maus. O PIB não cresceu tanto como muitos esperavam devido à “acentuada desaceleração (…) das exportações”. É realmente mau, porque exportarmos é o único caminho para sairmos do buraco em que estamos. A única boa notícia é que o investimento acelerou.
Há, pois, que manter os factos em perspetiva. Crescer a 2,8% ao ano é bom, só é pena que não seja um pouco mais. A queda das exportações constitui um sério sinal de alarme, que não convém nada ignorar.
Por fim, talvez seja bom deixar a política para os políticos e a economia para economistas e gestores. Ficámos a saber que a rede de contactos de Luís Marques Mendes não é assim tão boa, o que muito abona a sólida independência do INE.
Mas há que dar uma certa margem de manobra a quem arrisca anunciar o futuro, pois fazer previsões é realmente difícil. Não me esqueço do dia em que o então comentador televisivo Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que o preço do petróleo iria subir até aos 200 dólares por barril. Hoje, desceu até à casa dos 50.