“No final não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silencio dos nossos amigos.”
Martin Luther King
No mundo, na Europa e em Portugal existem vários tipos de diferenças (é certo que umas mais coerentes do que outras e várias mais fingidas do que outras) que acabam por se transformar em diferenças mais bloqueadoras, e menos em discussões salutares, indispensáveis para o futuro. Tais diferenças fazem-se sentir em vários sectores da nossa sociedade. Muitas delas caindo fundo na certeza de que o Estado tem sido e é em muitos casos o problema e a sociedade a solução. Noutros casos nem tanto. Mas, política, ideológica, social, económica e culturalmente, algumas dessas diferenças, têm condicionado e muito o Portugal contemporâneo, aquando da definição das principais opções estratégicas, sobretudo para médio e longo prazo. Fazendo sentido, falarmos da necessidade de dar voz e força à indignação dos moderados. Porquê? Por muita coisa. Porque as minorias (de várias classificações que não só sociais) parece imporem e quase esmagarem as maiorias. Porque em muitas áreas da vida do Estado, da “polis” e da sociedade, vivemos um tempo em que já não temos a dicotomia entre esquerda e direita, mas sim entre o centro contra os populismos de esquerda e direita. Porque a revolução dos moderados impõe que se acabe com o confisco partidário da cidadania, por parte dos maus aparelhos partidários manobrados centralmente do topo às bases. Hoje temos a comunicação individual de massas que ultrapassou a comunicação de massas. Uma grande diferença, que se faz sentir é uma tendência de desintermediação acentuada da política e da comunicação. Com novos protagonistas. Os produtores e consumidores de política e simultaneamente de comunicação (os chamados prosumers) assumem uma relevância nunca antes prevista. Impondo que a qualidade da democracia e a atratividade dos partidos políticos seja alcançada de outras formas. Daí que também concorra para a indignação dos moderados, os que estão ao centro e não subscrevem a ideologia liberal que defende que cada um vá ao mercado e se governe. Por si só. Esta relação feia entre o liberalismo e a pessoa não faz sentido.
Para um país como Portugal, com comprometimento e dependência do projeto europeu, não faz sentido confundir tal circunstância, com fechamento a outras opções no domínio da sua política externa, com enfoque na diplomacia económica. Daí dever saber fazer a gestão de relacionamentos com África, Médio Oriente, América do Sul e EUA. Até porque a Europa continua sentada em cima da cultura da austeridade e do medo. Despertando vários tipos de demagogias. Onde ser moderado e centrista não é fácil. E como se tem percebido, nem a Alemanha (que é atualmente a potencia do centro político com Angela Merkel) está fora dessas e de outras contendas. E é caso para dizer que nunca fez tanto sentido pedir uma vasta coligação de moderados e de centristas, à escala europeia, sobretudo nas matérias não económicas e financeiras. De onde deverão sair respostas diferentes, por exemplo para que se acabe com o obsessão de que o cidadão seja avaliado na plenitude da sua condição de vida, em função do seu poder aquisitivo. Algo que tem estigmatizado milhões de pessoas, nas sociedades contemporâneas não homogéneas europeias.
Os sonhos do centro e dos moderados, a sua agenda que não só económica, mas sobretudo política, social e cultural, nunca fizeram tanta falta à Europa e a países, como Portugal.
A Europa e Portugal, não vivem só uma crise financeira. Vivem uma crise de credibilidade externa (a Europa no mundo e Portugal ainda na Europa). E vivem uma crise de valores de vida. Uma crise que os tem afastado, de muitos valores da sua história e da sua identidade. Cercados pelo laicismo radical e pelo populismo extremista prisioneiro (sobretudo na Europa) de erros graves. Que se traduziram na sua unipolaridade normativa e na sua péssima política externa de vizinhança.
Vivemos tempos complexos. Mas desafiantes. Onde a sociedade do carácter tem de se impor à sociedade do mercado. Daí também, decorrendo, que no domínio do confisco partidário da cidadania, não faça sentido, existirem perseguições e manigâncias dentro do lado mau dos aparelhos partidários. Sustentados em que qualquer diferença e divergência, seja elevada à condição de que está a fazer “oposição à direção do partido”. Que triste e pobrezinho. Já para não se chamar a atenção para a desnecessidade da existência de censura informativa partidária, a pessoas que os lápis partidários, consideram contrários à linha oficial.
É também por trincheiras deste tipo partidário, que a indignação dos moderados, faz sentido. No respeito pelo passado, projetando no presente, as alterações que se justifiquem, para um futuro diferente. Que acomode muito do que deve ser uma nova cultura política e económica. Na Europa. E sobretudo em Portugal.
olharaocentro@sol.pt