América de Trump será a mesma depois da reação do presidente dos Estados Unidos aos confrontos no Estado da Virgínia? É possível que não. É claro que depois de à vista do mundo inteiro – numa conferência de imprensa marcada para falar noutro assunto – Trump ter desculpabilizado os defensores da supremacia branca, colocando-os no mesmo plano ético do que os manifestantes anti-racistas, apareceu logo de seguida com três ou quatro tuítes a desdizer o que tinha dito na véspera. Mas houve um Rubicão que, mesmo para a América de Trump, foi ultrapassado.
Os homens que levaram Trump ao poder estão a deixá-lo cair. Os grandes magnatas da indústria e das finanças que apoiaram a candidatura afastam-se agora e consideram que Trump não devia estar na presidência dos Estados Unidos. Todos os chefes militares se revoltaram contra o presidente pelo seu branqueamento do que se passou em Charlottesville e todos – o chefe do Exército, da Força Aérea, dos “Marines” e do National Guard Bureau – fizeram questão de emitir duros comunicados a condenar sem margem para dúvidas o racismo e os neonazis.
Até Mike Pence, o vice-presidente, não conseguiu defender a frase de Trump segundo a qual “os dois lados tinham culpa” no que se passou em Charlottesville.
Segundo o New York Times, os conselheiros top de Donald Trump afirmam-se petrificados e muitos deles acham impossível que Trump consiga recuperar a imagem – enquanto entre alguns dos seus assessores persiste a dúvida se Trump é capaz de ocupar o cargo de presidente dos Estados Unidos.
O mais extraordinário é que nem a Fox News, a estação de televisão que apoiou Trump desde o dia zero, é hoje capaz de proferir uma palavra a favor do presidente dos Estados Unidos. Um dos rostos da Fox News, Shepard Smith, disse que não conseguiu encontrar um único republicano para vir à estação defender o presidente.
Numa mais do que evidente demonstração de como o Partido Republicano ficou em choque com Trump foi a reação dos dois antigos presidentes Bush, pai e filho. Em comunicado simbólico, o velho George e George W. escreveram que “a América deve rejeitar sempre a intolerância racial, o antissemitismo e o ódio em todas as formas”.