O diário norte-americano “New York Times” publicou esta terça-feira uma reportagem sobre as dinâmicas de poder entre Portugal e Angola, descrevendo como a antiga colónia aproveitou a crise económica europeia para inverter os papéis e transformar Portugal num resort de compras luxuosas, campo fértil de investimentos e catapulta para o glamour mundial.
Assinado pelo correspondente no gabinete da África do Sul, Norimitsu Onishi, o artigo fala, por exemplo, de como o ex-ministro português dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, pediu desculpas ao governo angolano, em 2013, pelas investigações que a procuradoria-geral conduzia então a várias figuras da diplomacia de Luanda.
O diário dá também como exemplos as vastas compras de Isabel dos Santos no campo dos media, banca e energi, para além do complexo de apartamentos Estoril Sol Residence, em Cascais, alegadamente designado o “edifício dos angolanos”. “Como os papéis se inverteram”, lê-se. “O colonizador, argumentam algums portugueses, é agora o colonizado.”
“O dinheiro que corre em Portugal vem da colónia que dominou, muitas vezes de forma brutal, ao longo de vários séculos”, surge num dos primeiros parágrafos do artigo. “Agora, a nação africana é um grande produtor de petróleo que nos últimos 38 anos foi liderado pelo pai da senhora [Isabel] dos Santos, o presidente José Eduardo dos Santos.”
Em muitos sentidos, o artigo do diário norte-americano é um resumo do longo currículo de investimentos polémicos da elite angolana em Portugal. Em todo o caso, Norimitsu Onishi sugere que a relação de poderes está de novo a alterar-se: à medida que Luanda sofre com os baixos preços do petróleo, Portugal recupera alguma independência económica.
O “New York Times” sublinha algumas das críticas a Portugal apresentadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que acusa o país de ser pouco minucioso com investigações a crimes de lavagem de dinheiro e subornos, sobretudo quando a origem das suspeitas está em Angola.
O jornal, no entanto, não esquece a investigação ao vice-presidente angolano Manuel Vicente, acusado este ano de pagar subornos de mais de 680 mil euros a um juiz.