Desde o início do século a economia portuguesa cresceu a uma média anual de apenas 0,3 por cento. O euro foi frequentemente apontado como o causador dessa quase estagnação. Já não podíamos desvalorizar a nossa moeda e assim recuperar competitividade. No euro estaríamos condenados, dizia-se, pois não conseguíamos concorrer com economias muito mais fortes, como a alemã.
Ora a economia portuguesa cresceu 2,8 por cento no primeiro semestre deste ano. Havia até quem esperasse mais do crescimento no segundo trimestre, mas o facto é que crescemos acima da média europeia.
As exportações, incluindo o turismo, tiveram aqui um papel decisivo. Depois de anos ainda com o escudo e desvalorizações cambiais suaves e depois com o euro, em que muitas empresas se refugiaram no mercado interno, surpreendeu uma tal recuperação exportadora.
E aconteceu porque, com a ‘troika’ e a crise, o mercado interno murchou. A sobrevivência de numerosas empresas passou a depender de uma actividade quase desconhecida para elas – vender nos mercados externos. Aí obtiveram resultados notáveis, como a conquista – que prossegue – de quotas de mercado. Nem a dramática quebra das vendas para Angola apagou esse êxito. Afinal, podemos ser competitivos tendo o euro como moeda.
A rápida expansão do turismo ficou a dever-se, em parte, aos problemas surgidos noutros destinos turísticos. Mas houve uma resposta positiva de muitos portugueses que nunca antes tinham sonhado em apostar neste sector – veja-se a multiplicação do chamado alojamento local.
Por outro lado, se o investimento está agora a dar um ar da sua graça, tal fica a dever-se ao investimento empresarial. O investimento público, baixíssimo em 2016, tarda a ser relançado, contra o prometido pelo Governo.
Será que a recuperação económica portuguesa prosseguirá nos próximos anos? Ninguém sabe, mas é inegável que temos obstáculos sérios pela frente, desde o alto nível da dívida pública até ao envelhecimento da população nacional.
No serviço da dívida, juros amortizações, o BCE ajuda. Os juros da dívida pública portuguesa têm-se mantido baixos, mas o panorama pode modificar-se a qualquer altura por causa de factores que não estão ao nosso alcance. Por exemplo, quando sairemos do nível de ‘lixo’ na notação das três principais agências de rating?
Outro problema dificultará a recuperação da economia portuguesa: o envelhecimento da população residente em Portugal. É uma tendência que tende a agravar-se. O país perdeu 354 mil trabalhadores em seis anos. Entre o segundo trimestre de 2011 e igual período de 2017 a população activa (empregada e desempregada) diminuiu em Portugal 236 mil pessoas.
Segundo Francisco Madelino, professor do ISCTE e ex-presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional, «há pouco mais de uma década entravam por ano cerca de 130 mil jovens no mercado de trabalho em Portugal. Agora, são cerca de 80 mil».
No segundo trimestre de 2011 em Portugal 58% da população activa tinha entre 15 e 44 anos; no segundo trimestre deste ano eram só 54%. Os jovens licenciados continuam a defrontar no país dificuldades de emprego compatível com as suas qualificações. E o que é razoável esperar para os próximos anos será um saldo migratório nulo. Uma população envelhecida reduz a força de trabalho e coloca dificuldades financeiras aos apoios sociais.