“Nós lutamos pela maioria qualificada, por uns 68%, 70%. Abaixo disso é mau, habituámo-nos à maioria qualificada, salve em 1992, em que o partido teve maioria absoluta”, disse ao i Dino Matross, atual secretário para as Relações Internacionais do MPLA, o partido no poder em Angola.
As eleições gerais de ontem decorreram de forma tranquila, afirmaram ao i várias fontes contactadas, com falhas, tal como admitiu a própria Comissão Nacional Eleitoral (CNE), mas sem problemas de maior.
“Não houve incidentes graves durante o dia de ontem”, disse Adalberto da Costa Júnior, líder parlamentar da UNITA, sublinhando, no entanto, que os problemas vêm de antes: “Nós vimos acumulando um processo de irregularidades, não ocorreram hoje”.
O presidente da CNE, André da Silva Neto, admitiu ontem, em conferência de imprensa, a existência de “pequenas falhas” durante o dia eleitoral, nomeadamente a questão dos fiscais de mesa dos diferentes partidos.
Lindo Bernardo Tito, vice-presidente e porta-voz da CASA-CE, diz que a CNE cometeu dois grandes erros, “primeiro foi o de não ter credenciado os fiscais; quando percebeu que tinha errado, procurou dizer que aqueles que eram suplentes podiam passar a efetivos, obviamente reduzindo a presença dos fiscais dos partidos nas mesas da assembleia de voto”.
O outro grande erro, acrescenta, foi a de só ontem a CNE ter desbloqueado as verbas para apoiar os delegados de lista: “Imagine um país com a imensidão de Angola, transferir recursos para 150 municípios, com as dificuldades de comunicação e a falta de bancos em todos os municípios?”.
Num primeiro balanço ainda provisório, Lindo Bernardo Tito salientou ter informação de “algumas localidades em que a votação não correu como previsto”, com urnas controladas maioritariamente por militantes do MPLA. Na província da Lunda Norte há relatos de urnas colocadas na casa de sobas (chefes de aldeia) ou junto a locais de culto.
Adalberto da Costa Júnior, por seu lado, prefere salientar que a campanha eleitoral de João Lourenço, candidato do MPLA à sucessão de José Eduardo dos Santos, que deixa o poder ao fim de 38 anos, “foi completamente ilegal”.
O líder parlamentar da UNITA, fala numa campanha do MPLA “montada nas instituições, com a obrigatoriedade de presença dos funcionários públicos, com a logística das Forças Armadas, com presença da Casa Militar, da polícia, uma coisa vergonhosa”, Isto tudo “com uma comunicação escandalosa e uma CNE silenciosa”.
Abstenção
Em relação à possibilidade de se poder vir a ter uma abstenção do mesmo nível ou superior aos 37,1% de 2012, Adalberto da Costa Júnior mistura o desejo com a realidade: “Eu espero que ela não tenha sido tão grande assim, mas houve os requisitos para ela ser”.
O dirigente da CASA-CE, a coligação que é a terceira maior força política angolana, refere que “eventualmente estas vão ser as eleições com maior abstenção”. E até Dino Matross admite que isso tenha acontecido: “É possível que haja mais abstenção”. Muito embora atribua isso às dúvidas de quem vai votar pela primeira vez, “em qualquer parte do mundo isso acontece”. Até porque, “a taxa de desemprego ainda é grande por causa da crise, há empresas que fecharam há um ano, ano e meio”.
Lindo Tito e Costa Júnior falam na “dispersão do voto” como fator explicador: “Voltámos a ter uma dispersão intencional dos votantes”, refere o líder da bancada parlamentar da UNITA. O vice-presidente da CASA-CE diz: “Houve deslocalização, eleitores que deveriam votar em determinada localidade foram colocados a votar noutra localidade”, acrescentou.