À segunda tentativa a Comporta foi vendida, depois de um negócio falhado em 2015. Dessa vez, a primeira proposta, de 400 milhões de euros, veio da gestora de fundos financeiros Armory Merchant. A compra foi travada em maio desse ano pelo arresto por parte do Ministério Público de património imobiliário de vários membros da família Espírito Santo, incluindo a Herdade da Comporta. O negócio acabou por se concretizar no passado mês de julho e a herdade foi vendida a Pedro Almeida. O empresário é agora detentor de 59% do Herdade da Comporta FEIIF, o fundo de investimento que gere os projetos turísticos e imobiliários daquela zona. Pedro Almeida vai ainda apresentar uma proposta para comprar também a parte agrícola da Comporta.
«O meu objetivo final é a parte agrícola, ou seja, a Herdade da Comporta. O meu objetivo é evitar que isto vá para mãos estrangeiras e preservar o valor da herdade», justificou o empresário. Em relação à parte imobiliária, Pedro Almeida planeia « ir vendendo à medida que as condições imobiliárias o permitirem». O objetivo é transformar a Comporta «num resort exclusivo e altamente atrativo para o mercado internacional». A estratégia do novo dono passa por manter e reforçar «as características únicas da Herdade da Comporta (…)», criando «uma estratégia global que garanta a manutenção de sustentabilidade, a preservação das atividades agrícolas e florestais e das características ambientais e paisagens circundantes».
Almeida tem também a perspetiva de vir a comprar os 41% que ainda estão nas mãos da família Espírito Santo, com a qual mantém relações cordiais com vários membros e com os quais se foi cruzando ao longo da sua carreira.
A Herdade da Comporta – composta por mais de 12.500 hectares (o equivalente a perto de um terço da área de Lisboa) entre Alcácer do Sal e Grândola – era o retiro da família Espírito Santo, que a tinha comprado em 1987 e foi colocada à venda quando o Grupo Espírito Santo (GES) faliu. O valor da oferta de Pedro Almeida está por revelar, mas é possível fazer aproximações já que quando o processo de venda foi iniciado, a herdade foi avaliada por uma consultora em 420 milhões de euros.
Regresso a Portugal
O projeto de compra da Herdade da Comporta acaba por ditar o regresso definitivo de Pedro Almeida a Portugal. «Tomei a decisão de desinvestir em determinados setores de forma a criar as condições financeiras para a realização deste investimento. O meu compromisso com o projeto da Comporta esteve na base da decisão do regresso definitivo a Portugal, depois de 38 anos a viver no estrangeiro, nomeadamente em Paris e Genebra», revelou o empresário em nota enviada às redações.
Aos 72 anos, casado, com três filhos e já avô, Pedro Almeida trabalhou quase toda a vida na indústria petrolífera, mas ao longo do tempo tem diversificado a sua atividade empresarial. Foi um dos principais financiadores da cadeia de fast food Prego Gourmet, projeto iniciado em 2010, e é também um dos acionistas de referência do jornal online Observador, lançado em 2014. Em julho de 2016 criou a Ardma Imobiliária, empresa com a qual vai adquirir a Herdade da Comporta e entrar no no negócio da promoção e desenvolvimento turístico e, depois, na agricultura.
O empresário, que em 2009 fundou a sua própria empresa de trading de petróleo e navegação, a Ardma, trabalhou com Patrick Monteiro de Barros, que conheceu no final dos anos de 1970 quando estava na Petrogal – hoje Galp Energia.
Patrick Monteiro de Barros, amigo de Ricardo Salgado – líder do GES – e antigo acionista e administrador da Espírito Santo International, contratou Pedro Almeida para trabalhar na Philip Brothers, empresa que operava no negócio de trading de petróleo.
Na década seguinte tornaram-se sócios e com Jean Claude Gandur e Andreas Dossembach criaram a Sigmoil Resources, empresa do mesmo ramo de negócio. O lançamento da companhia com sede em Genebra tem o apoio do líder do GES. Patrick Monteiro de Barros conta que Salgado pôs à sua disposição a Gestar, empresa do GES especializada na criação de sociedades. Mais de 20 anos depois, Pedro Almeida sai da Sigma para a Addax, empresa independente de exploração de petróleo, de que se torna acionista, e que em 2009 é vendida por 7,3 mil milhões de dólares. Desde então gere a Ardma, que também tem sede em Genebra e negócios em Portugal.
Em julho, Madonna foi andar a cavalo para a Comporta. «Uma coisa é o meu projeto, que aguarda as decisões dos tribunais para que a aquisição seja efetivada, e outra coisa são os destinos turísticos procurados por Madonna», disse ao Expresso Pedro Almeida, acrescentando que nada «tem a ver com as opções de Madonna».
O empresário explica que nos «EUA as duas referências mais frequentes sobre Portugal são Cristiano Ronaldo e a Comporta, que foi publicitada no mercado norte-americano durante muito tempo». Daí ser «natural que os americanos procurem aquelas praias”, comentou.
Madonna a cavalgar na Comporta poucos dias depois do anúncio da compra foi uma coincidência temporal – e, indubitavelmente, uma grande publicidade – para o novo projeto de Pedro Almeida.