… do desperdício
Podíamos pegar na velha máxima do “nada se perde, tudo se transforma”, até porque no caso dos millennials, à consciência de zero desperdício, junta-se o fator necessidade. A cada fim de semana brota mais um mercado de coisas em segunda mão, velharias ou de vendas de garagem. É certo que o vintage está na moda, mas asseguramos que, na feira da ladra, por exemplo, compra roupa para uma semana sem gastar mais do que uma nota de vinte. Também nos supermercados as compras estão mais conscientes e isso é visível principalmente nas opções de venda a granel que começaram nas pequena mercearias e chegam já aos hipermercados. Na Maria Granel, em Lisboa, tudo é vendido – tal como o nome indica – a granel e, por isso, não há embalagens, sacos de plástico ou carrinhos de supermercado. Aliás, são cada vez mais os clientes que, numa tentativa de evitar um gasto extra de papel e plástico, levam os seus próprios frascos para encher na loja.
… da alimentação
Quarta-feira à tarde. Tentativa de marcar um jantar de amigos num restaurante vegan em Lisboa. Primeira tentativa, casa cheia, segunda tentativa, “já não aceitamos reservas”, terceira tentativa, “se quiser vir às sete e esperar…”. Mudança de planos, mas o foco é o mesmo: fugir das pizzas e hambúrgueres que nos encheram a adolescência e procurar pratos cheios de verde e sobremesas sem açúcar. É assim à mesa e no supermercado. O biológico fala sempre mais alto, mesmo que fale mais alto para a carteira também. Foge-se dos hipermercados para um entra e sai em supermercados que têm com prefixo ou sufixo a expressão “bio”. De repente somos mestres em química e os rótulos já não são aquelas letras pequeninas que passavam para segundo plano, quando só mais barato importava. Os millennials estão mais conscientes do que lhes enche o frigorífico e, no meu, já há muito que o tomate só entra em Agosto e não em pacote e a carne tem direito a uma gaveta cada vez mais pequena do congelador.
… da importância do comércio local
”Só em necessidade absoluta” é que Inês recorre a um hipermercado, “para um creme em específico, ou quando não chego a tempo de apanhar o mercado aberto”. De resto, a lista de compras tem resposta no mercado 31 de Janeiro durante a semana, no mercado biológico do Campo Pequeno ao sábado e nas mercearias portuguesas da vizinhança. O facto de o pai de Inês ter tido uma mercearia durante vinte anos ajudou a que passasse a comprar “local” por razões emotivas, às quais junta as económicas. “Prefiro ajudar uma pessoa próxima de mim, numa mercearia ou mercado, do que enriquecer ainda mais as grandes superfícies”. Garante que não gasta mais – “até porque os hipermercados cortam no preço de uns produtos para aumentar noutros” – e que o sabor dos frescos não tem comparação. “Os hipers, como têm de chegar a uma massa grande de gente, não vendem o melhor, vendem o mais barato”, garante.
… do perigo do plástico
No dia em que viu nas notícias que dezenas de baleias tinham morrido na Austrália devido à ingestão de plástico, Rita decidiu mudar o mundo. “Pelo menos, mudar o meu”, explica ao i. Desde esse dia que as embalagens são coisa rara lá por casa, o que obrigou à mudança de alguns hábitos. As compras são transportadas num saco de pano e os sacos pequenos que normalmente são usados para embalar a fruta e os legumes foram trocados por sacos de rede feitos à mão. Sempre que possível, o pão é comprado na padaria e trazido para casa num saco de pano, claro. Além disso, dá primazia a lojas que vendam produtos a granel, onde vai também já com os frascos vazios para encher, isto quando não traz legumes e ervas da aldeia dos pais. No restaurante pede sempre água em garrafa de vidro e a água da torneira de casa é filtrada para evitar os garrafões de plástico. Na casa de banho não há frascos de gel de banho e toda a gente usa sabonete. Neste momento está a testar um champô em sabonete. “Resulta e sempre é menos um frasco”, lembra.
… do poder da agricultura
O regresso dos jovens a um setor repudiado por todos durante anos está a revolucionar o país. A agricultura é agora feita por mãos de quem estudou o assunto e o trata com novas técnicas e faz crescer novos produtos. Segundo dados da Confederação dos Agricultores Portugueses, quando Portugal aderiu à CEE, a população ativa na agricultura era 25%, contra uns atuais 5%. No entanto, a produção atingiu em 2015 o valor mais alto de sempre. Aqui falamos em grande escala e em todos os jovens que voltaram ao campo e, muitos deles, reaproveitaram antigos terrenos de família para apostar na produção. Mas os que ficaram pela cidade, também procuram alternativas. Além das hortas urbanas que nasceram às dezenas, até os vasos da varanda servem para ter em casa um pé de salsa caseiro.
…da necessidade de eliminar químicos
A casa de Ágata é um pequeno oásis ecológico. Não existe champô, amaciador, gel de banho, pasta de dentes, detergentes, desodorizantes, pensos, tampões, cotonetes ou pasta de dentes de plástico. Tudo começou com uma mãe atenta às questões ambientais que a levaram, desde sempre, a testar mezinhas caseiras. A primeira vinha na revista Ragazza e prometia caracóis mais definidos se embebesse a cabeça em cerveja. Desde aí aprimorou a arte e hoje sabe de cor todas as técnicas para limpar sem químicos. O champô é uma mistura de centeio, água, funcho e óleo de coco e o amaciador, esse, dá para cabelo, para a cozinha, para os vidros e até para o chão. “Um quarto de vinagre de sidra para ter quartos de água”, explica, qual rainha da química ecológica. A pasta de dentes pode ser feita com hortelã, argila, sal grosso e o copo menstrual substitui pensos e tampões. O desodorizante é pedra de alúmen, a escova de dentes é de bambu e o cotonete é lavável. Podíamos continuar este texto, mas os carateres têm limites, ao contrário desta consciência ecológica.