Pinto Balsemão faz no dia 1 de setembro 80 anos. O império que construiu anuncia agora a sua queda. Para os adoradores de coincidências, esta não podia ser mais trágica.
Pinto Balsemão foi um primeiro-ministro que não ficou na história (sucedeu a Sá Carneiro, também nunca teria hipóteses por melhor que fosse) mas o que se passou no Expresso no tempo em que era primeiro-ministro foi decisivo para o consagrar na galeria dos ‘grandes patrões da imprensa’.
Quando Francisco Pinto Balsemão se instalou em São Bento, o Expresso ficou entregue a Marcelo Rebelo de Sousa. E na verdade, durante o tempo em que o agora Presidente da República foi diretor do semanário fundado em 1973 não poupou o Governo Balsemão. Por muito que ficasse horrorizado ao ler aos sábados o jornal de que era proprietário, a partir da sua guarita de primeiro-ministro, o facto de não ter censurado Marcelo foi essencial para a consolidação de uma imagem de respeitabilíssimo patrão de media. Na verdade, Marcelo fez um enorme favor a Pinto Balsemão.
O comunicado que anuncia a queda do império foi escrito numa língua morta, o ‘gestorês’ – a Impresa anunciou que está num «processo formal de avaliação do portefolio» das revistas, o «que poderá implicar a alienação de ativos», com vista a «um reposicionamento estratégico da sua atividade, que implicará uma redução da sua exposição ao setor das revistas e um enfoque primordialmente nas componentes do audiovisual e do digital».
Pinto Balsemão começou a carreira na imprensa no velho vespertino Diário Popular, onde integrou o Conselho de Administração, entre 1965 e 1971. Em 1973, funda o Expresso. É o primeiro diretor de um jornal que marcou uma época na imprensa portuguesa.
O Expresso é a pedra sob a qual Pinto Balsemão constrói a sua “Igreja”: a Impresa, dividida em holdings e subholdings, integra a SIC, a televisão fundada em 1992. No tempo do apogeu, Balsemão aumenta o seu império, absorvendo o extinto projeto Projornal (uma cooperativa de jornalistas que fundou o semanário O Jornal, antecessor da revista Visão, proprietária do Jornal de Letras). Foi também o precursor das revistas cor-de-rosa, ao lançar a Caras. Entre as revistas de Balsemão, há títulos históricos como o Blitz. Na imprensa portuguesa há uma história a chegar ao fim.