O controlo das contas continua a ser a principal prioridade de Mário Centeno, mas o Ronaldo do Ecofin, como lhe chama Schäuble, continua a ser um dos nomes apontados para a presidência do Eurogrupo. Apesar de ter sido falado em março e de ter caído no esquecimento, o próprio ministro das Finanças português já tem feito saber que presidir ao Eurogrupo é algo que gostava que acontecesse.
O assunto voltou a ser tema de conversa quando, no início deste mês, ainda durante as férias parlamentares, Centeno voltou a deixar a hipótese em aberto, numa entrevista ao El País. «Não vou dizer que não, se há uma possibilidade», sublinhou prontamente o responsável pelas finanças portuguesas.
Vamos por partes. Em abril deste ano, Mário Centeno foi sondado para assumir o lugar de Jeroen Dijsselbloem, mas António Costa apressou-se a rejeitar a ideia. Em entrevista à Renascença, o primeiro-ministro português evidenciou que uma candidatura do ministro responsável pela pasta das Finanças não estava nas prioridades do Governo. No entanto, quando o caso parecia estar encerrado, Centeno veio dizer a um canal norte-americano que nunca lhe passou pela cabeça excluir essa possibilidade.
Mais tarde, já em junho, explicou que não era uma matéria que lhe ocupasse o tempo. Mas, sem afastar a hipótese, sublinhou que, quando a questão se colocar, «é importante que Portugal tenha uma posição forte».
A dar força à questão estão várias posições a favor de Centeno ocupar o lugar. Contactado pelo SOL, o eurodeputado português Carlos Zorrinho reforçou que Centeno «é uma possibilidade desde há uns meses e começou a ser falado desde o primeiro momento em que se falou da substituição de Jeroen Dijsselbloem». Para Carlos Zorrinho, o ministro das Finanças português tem todas as características formais para estar nesta corrida. «Não nos podemos esquecer que ele é o rosto do bom comportamento da economia portuguesa. Mas também não nos podemos esquecer que existem outros candidatos», destacou.
Por outro lado, Nuno Melo relembra que «se falou do convite, mas que depois foi desmentido». Seja como for, para o eurodeputado centrista, quantos mais portugueses no projeto comum, melhor. Ainda assim, sublinha que, quando se fala nos bons resultados da economia nacional, é necessário ter em conta: «A dívida condiciona-nos no que pagamos de impostos diretos e indiretos. Além disso, o que temos atualmente é o resultado do que foi feito desde 2011». No entender de Nuno Melo, António Costa tem-se limitado a prosseguir com o caminho que já vinha a ser sustentado e mantido pelo Governo PSD/CDS liderado por Passos Coelho. «O anterior Governo conseguiu crescer num cenário de crise global. Ainda bem que atualmente vemos a economia a crescer, mas não nos devemos esquecer que a dívida é uma das maiores da União Europeia», defende, acrescentando que existem outras opções quando se fala da substituição de Jeroen Dijsselbloem: «Temos de ver quis e quem quer um convite para o cargo em questão. O homólogo espanhol [Luis de Guindos], por exemplo, terá recusado».
Ainda assim, todos acreditam que Mário Centeno está longe de ser uma carta fora do baralho. A eurodeputada socialista Ana Gomes, por exemplo, não esconde que «o presidente do Eurogrupo tem sido sempre um ministro das Finanças» e que o nome de Mário Centeno continua a ouvir-se em Bruxelas.
Centeno soma e segue
Mas a ideia de que Mário Centeno pode ser o próprio presidente do Eurogrupo é sustentada até por importantes figuras internacionais. Um dos exemplos é Joseph Stiglitz, Nobel da Economia e professor na Universidade de Columbia.
«Acho que seria bom para o Eurogrupo ser liderado por alguém com um grande conhecimento da diversidade da Zona Euro», defende. No entender de Stiglitz, é tempo de «o Eurogrupo ser representado por alguém que tem mais conhecimento das dificuldades que a Zona Euro enfrenta como um todo». Até porque, mesmo que existisse essa hipótese, não existem condições para Jeroen Dijsselbloem continuar no cargo: «Como uma pessoa que está de fora, fiquei horrorizado com as afirmações de Dijsselbloem [sobre os países do sul]. São um exemplo das disfunções da Europa. E, quando fez afirmações como aquelas, devia ter-se demitido. Achei profundamente perturbador».
Recorde-se que o atual líder do Eurogrupo foi fortemente criticado quando defendeu que os países do sul europeu desperdiçaram dinheiro em «álcool e mulheres».
A piorar a situação está o facto de Dijsselbloem ter recusado pedir desculpas, depois de defender que a expressão serviu apenas para sublinhar a necessidade de cumprir regras.