Hélder Guerreiro (CDU). “O PS não honrou o voto de mudança dos sineenses”

O candidato da CDU considera que os últimos executivos camarários, tanto o dirigido pelo SIM como o do PS, fizeram uma política de fachada com muitas festinhas, mas pouca atenção aos cidadãos

Afirma que é possível os comunistas voltarem a mandar na Câmara de Sines e que o seu mandato teria como prioridade devolver a qualidade de vida aos munícipes e apostar nos trabalhadores da câmara. São as apostas do atual vereador do PCP, que coordena a comissão central de trabalhadores da Petrogal.

Quais são, no seu entender, os principais problemas com que o concelho de Sines se debate?

Os principais problemas mantém-se, infelizmente, inalterados de há quatro anos para cá. Na última campanha eleitoral colocámos como principais problemas a regeneração urbana, o arranjo das ruas e dos jardins, a vivência na cidade como prioridade. E se formos dar uma volta, poderemos verificar que estes aspetos não foram corrigidos e melhorados. As ruas não estão cuidadas, as casas não estão pintadas, continua a haver passeios e jardins degradados. Muita coisa continua ao abandono. Há todo um clima de desleixo por parte da câmara municipal, que não garante as sua competências mais básicas. Infelizmente, nós vamos ter de voltar a uma campanha eleitoral a dizer que nós assumimos que a câmara garante que vai trabalhar para cumprir as suas funções e atribuições. 

Isso não vem do passado e não tem responsabilidades também da CDU? Durante décadas, primeiro com o Chico Pacheco e depois com o Manuel Coelho, antes de ele passar a candidato de um movimento de independentes, o concelho foi dirigido pela CDU. 

É um problema que se agravou essencialmente nos últimos oito anos. A cisão que resultou no aparecimento do SIM tem também que ver com isso. Foi dado pelo SIM prioridade às obras de fachada, em detrimento das outras questões mais básicas na vida dos munícipes. É este tipo de prioridades que é preciso inverter. Não significa que não haja grandes obras, mas é preciso dar primeiro prioridade a muitas coisas que condicionam a vida dos munícipes, aos serviços da câmara e à organização desta, para dotar a autarquia de meios que permitam cuidar da cidade, tornar a cidade amiga do munícipe. Há coisas tão simples para resolver como conseguir que se ande nesta cidade com um carrinho de bebé, já para não falar da cadeira de rodas dos deficientes, sem ter de se deparar com uma corrida de obstáculos. 

O que considera que são obras de fachada? O pavilhão multiusos? O centro de artes?

Não.

As obras na Vasco da Gama?

Sim. São de fachada no sentido em que não eram obras prioritárias, havia outras coisas que podiam ser feitas, com menos despesa, e que eram mais importantes para os munícipes.

Não se pode dizer que os sineenses usufruem pouco da sua proximidade com o mar e a cidade não aproveita a Avenida Vasco da Gama, e não havia o problema da falésia, que estava em risco de ruir?

Há aqui dois aspetos distintos: a intervenção na falésia era prioritária e ninguém contesta. O que se discute é que o enfoque que se dá na frente marítima da cidade não exigia destruir uma avenida para construir outra por cima. Podia-se perfeitamente recuperar a avenida anterior sem fazer um elevador, por exemplo. Havia soluções alternativas mais baratas, que ficariam mais baratas para a câmara, que permitiriam garantir o investimento noutras áreas. Há outros aspetos que nos parecem má gestão. 

Da gestão do SIM ou do PS?

Não há grande diferença. A principal crítica que fazemos ao PS é não ter honrado os votos de mudança que os sineenses lhe deram. Quando os sineenses atribuíram uma maioria absoluta ao PS, era para mudar a sério. E o que se verificou? As prioridades continuam a ser as mesmas: festas, a fachada, e não a resolução dos verdadeiros problemas de Sines.

Mas isso não é um pouco contraditório com os próprios mandatos finais da CDU? Parte das grandes obras que são feitas pelo candidato do SIM tinham sido feitas em mandatos da CDU, como o centro de artes. A construção das piscinas, no tempo da CDU, do pavilhão multiusos e dos novos centros escolares não são importantes? Quais são as obras deste executivo?

Deste, não há. O que eu acho igual é a prioridade em políticas de fachada. Vamos ver, há aqui uma questão que é incontornável. Com o movimento SIM havia uma grande ânsia de realizar obra. Havia uma conjuntura favorável, do Quadro Comunitário de Apoio, com as obras financiadas até 85%. Havia um bocadinho este pensamento: como sai barato, são só 15% que paga a câmara, vamos fazer. Mas obviamente que 15% de cinco milhões, mais 15% de dez milhões, mais 15% de milhão e meio, e assim sucessivamente, dá uma pipa de massa. Dá muito milhão e que, obviamente, a câmara não tinha capacidade de gastar. Dá uma capacidade de realização muito grande, mas depois também vem a conta para pagar. E o que se verificou é que a câmara ficou numa situação de grande desequilíbrio financeiro. E, de facto, o PS herdou uma situação complicada a nível das contas da câmara. Isso pesou e vai pesar para qualquer força política que tome a gestão da câmara. A questão é tomar as medidas. Ninguém exigiria ao PS que fizesse milagres nem o paraíso na terra em Sines em quatro anos. Mas pedia-se que começasse a tomar medidas. O que se verificou foi que houve uma paralisia total nos primeiros anos de mandato. Tentando amealhar dinheiro para agora, no fim, gastar todo o dinheiro em festas e festinhas. O pouco que fizeram foram obras feitos à pressa, uma espécie de remendo, sem perceber que esta regeneração urbana é um processo que tem de ser feito a quatro anos. É preciso reorganizar os serviços da câmara e dotá-los de meios para intervir no concelho.

Outro dos problemas existentes é a questão económica e de emprego. Qual o papel que a câmara pode ter a esse nível?

Em primeiro lugar, deve dar o exemplo. A câmara não deve ter trabalhadores precários. O que nós vemos é que, ao nível do litoral alentejano, é aquela que mais utiliza trabalhadores com vínculos precários. É preciso reduzir ao mínimo os trabalhadores nessa situação. A outra questão em que a câmara poderia ter uma palavra a dizer é a da chamada “Carta Social do Complexo”. Esta carta tentaria chamar a atenção dos empregadores do complexo industrial para cumprirem normas sociais e para que a precariedade só resolve o problema de quem quer explorar, e que a autarquia deve estar ao lado do trabalho com direitos. Uma câmara não se pode isentar de chamar a atenção para esses problemas. Isso também representa a diferença ideológica de cada força que concorre a estas eleições.